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Pandora Papers revelam novas ligações corruptas de Ricardo Salgado

GES, Odebrecht, ICG, Michel Ostertag, Paulo Murta, um ministro venezuelano, a mulher do ministro e uma casa no Chiado. Figuras num esquema de suborno e lavagem de dinheiro entre o Brasil, Dubai, Suíça, Venezuela e Portugal através de várias offshores com a ajuda do Espírito Santo, mais uma vez.
Crucialmente, o apartamento de Maria Eugénia foi adquirido com recurso a um empréstimo de €900 mil euros. De quem? Banco Espírito Santo. Foto de Tiago Petinga, Lusa arquivo.
Crucialmente, o apartamento de Maria Eugénia foi adquirido com recurso a um empréstimo de €900 mil euros. De quem? Banco Espírito Santo. Foto de Tiago Petinga, Lusa arquivo.

No mundo das offshores, todos os caminhos levam ao universo Espírito Santo. O nível de ligações corruptas em que Ricardo Salgado esteve envolvido é de tal forma profundo que qualquer investigação parece revelar novas ligações que explicam lacunas na investigação do ministério público a Ricardo Salgado.

Entre 2012 e 2014, através de bancos do GES no Dubai, na Madeira e no Meinl Bank em Antígua, passaram 92,1 milhões de dólares com origem na Odebrecht, a empresa brasileira envolvida na maior rede de corrupção na história do Brasil, que tinham como destino Haiman El Troudi, então ministro das obras públicas da Venezuela.

O objetivo da Odebrecht era ganhar os contratos de construção de linhas do metro na capital venezuelana, que ganhou. El Troudi não era apenas ministro das obras públicas do recém-nomeado presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, mas também presidente do próprio metro de Caracas.

Para o dinheiro chegar a El Troudi, a Odebrecht transferiu os subornos para a Cresswell Overseaslimited, empresa com sede no Panamá. A Cresswell foi criada pela Alcogal, um escritório de advogados no Panamá que forneceu os administradores de fachada para a Cresswell. Mas o serviço da Alcogal foi encomendado pela ICG Private Wealth & Family Offices Servies, onde está uma figura da confiança direta de Ricardo Salgado, Michel Ostertag.

Em 2013, Ostertag afirmou que o beneficiário da Cresswell seria Leopoldo José Briceño Punceles. Mas não passava de um testa de ferro. De acordo com uma confissão do dono da ICG ao ministério público da Suíça, a verdadeira beneficiária desta empresa fantasma era a mulher de El Troudi, Maria Eugénia Baptista Zacarias.

Da Cresswell, os 92,1 milhões de dólares passam pelo GES no Dubai e na Madeira, bem como pelo Meinl Banl em Antígua. 50 milhões são investidos pela mulher de El Troudi em ações preferenciais da Espírito Santo Overseas Limited (ESIOL), através da Cresswell e de outra empresa offshore, a Eurasian Investimentos Limited. Ora, foi Ricardo Salgado que orientou Michel Ostertag para criar a Cresswell. Por sua vez, Ostertag delegou a gestão do dinheiro de Maria Eugénia em Paulo Murta. Ostertag e Murta eram, por seu lado, administradores da Eurasian Investimentos Limited.

Em 2013, Maria Eugénia criava em Lisboa uma empresa sem atividade ou funcionários, a Publicicorp. Esta empresa compra de seguida um duplex num edifício de luxo no Chiado, na rua Ivens 31, por 1,5 milhões de euros. É também neste prédio que Pedro Novis, o ex-CEO da Odebrecht, comprou um apartamento alguns meses antes.

Crucialmente, o apartamento de Maria Eugénia foi adquirido com recurso a um empréstimo de €900 mil euros. De quem? Banco Espírito Santo.

Simultaneamente, os 50 milhões euros investidos pela mulher de El Troudi na ESIOL foram integralmente injetados na ESI que, no final de 2013, estava numa situação desesperada devido à dívida oculta de €1300 milhões ao BES, dívida que motivou o Banco de Portugal a exigir a Ricardo Salgado uma injeção na ESI através de capitais próprios.

Como a investigação do Expresso deixa claro, parte desse dinheiro veio de clientes especiais do banco, nomeadamente clientes venezuelanos.

O advogado que representa Maria Eugénia em Portugal é Luís Delgado Contreras, um advogado venezuelano denunciado por três delatores do caso Lava-Jato, no Brasil, como sendo o homem que serviu de intermediário para negociar com a Odebrecht para a aprovação dos contratos de obras públicas com as empresas do metro de Caracas e do metro Los Teques.

Este advogado cobrava uma comissão de 2% do valor das obras. No total, terá recolhido mais de 100 milhões de dólares através da Cresswell Overseas, que processava os pagamentos.

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