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Os “teamsters” entram na luta pela sindicalização na Amazon

O histórico sindicato dos camionistas norte-americanos, um das maiores organizações sindicais do país, decidiu tornar prioritária a campanha pela sindicalização na empresa de distribuição.
Carrinha da Amazon Prime. Foto de Marco Verch/Flickr.
Carrinha da Amazon Prime. Foto de Marco Verch/Flickr.

A recente batalha pela criação de um sindicato num armazém da Amazon em Bessemer, no Alabama, tinha alimentado esperanças e a sua derrota deixou marcas no movimento sindical dos Estados Unidos. Mas agora outro gigante decidiu entrar na luta contra o segundo maior empregador do país. A International Brotherhood of Teamsters, um dos maiores sindicatos norte-americanos com cerca de 1,4 milhões de associados, decidiu na passada quinta-feira tornar prioritária a campanha pela sindicalização naquela empresa de distribuição.

O sindicato dos camionistas procura assim vencer onde o Retail, Wholesale and Department Store Union, que representa 100.000 trabalhadores, não foi bem sucedido. Os “teamsters” prometem uma abordagem diferente da tentativa separada de fazer votar a criação de um sindicato em cada uma das instalações. Foi mesmo criado um departamento sindical com o objetivo de quebrar os 26 anos de existência da Amazon sem que os trabalhadores tivessem direito a representação.

À Associated Press, Randy Korgan, o representante do sindicato dos camionistas para a Amazon disse que os trabalhadores desta empresa “estão a apelar a melhores e mais seguras condições de trabalho e com a resolução de hoje estamos a ativar toda a força do nosso sindicato para os apoiar”. A Amazon é criticada por pagar salários baixos, obrigar a ritmos de trabalho demasiado intensos e não garantir segurança no trabalho. Na resolução aprovada na sua convenção, a International Brotherhood of Teamsters considera que “não há exemplo mais claro de como a América está a falhar à classe trabalhadora do que a Amazon”, acusando a empresa de “estar a mudar a natureza do trabalho no país, de práticas “contra a concorrência”, “ambientes de trabalho desumanizantes” e “inseguros”

International Brotherhood of Teamsters, um gigante sindical com passado obscuro

O IBT, International Brotherhood of Teamsters, traduzido à letra a Irmandade Internacional dos Camionistas, nasceu em 1903 como resultado da fusão de outros dois sindicatos do setor. E nasceu torto, sendo desde logo acusado de ser um sindicato corrupto que aceitava subornos para acabar com greves, suas e de outros setores dado o seu poder, e ligado ao crime organizado.

O seu presidente entre 1907 e 1953, Daniel J. Tobin, era conhecido por ser um anti-comunista fervoroso. Em 1934, na sequência da vitoriosa Greve Geral em Minneapolis, tentou desmantelar a secção local do sindicato liderada por um grupo trotskista do qual faziam parte Farrell Dobbs e os irmãos Dunne. Montou uma delegação sindical paralela, organizaram-se vários raides violentos à sede do sindicato e, em outubro de 1935, decidiu-se formalmente negar a participação no sindicato a qualquer comunista. Apesar de tudo isso, dada a força do sindicato, Tobin foi obrigado a aceitar a influência esquerdista. Até que, em 1941, a perseguição governamental ao Socialist Workers Party sob pretexto de uma lei que criminalizava a defesa do derrube do governo por meios violentos resultou na prisão de vários destes dirigentes sindicais e dirigentes do partido.

Durante a presidência de Tobin, os casos de corrupção, extorsão, desvios de fundos no sindicato mantiveram-se. A seguir, outra das figuras marcantes da história do sindicato dos camionistas, Jimmy Hoffa, continuou esse caminho. Foi presidente entre 1957 e 1971 e, por exemplo, emprestou dinheiro do fundo de pensões do sindicato para a construção de casinos da mafia em Las Vegas. Em 1967 foi mesmo preso, tendo recebido posteriormente um perdão presidencial de Nixon que o impedia de voltar a assumir a presidência do sindicato até 1980. Não acatou essa proibição e preparava-se para voltar a disputar o lugar em 1975 quando desapareceu, tendo sido declarado morto apesar dos seus restos mortais nunca terem sido encontrados.

O sindicato é também conhecido pelas suas fidelidades políticas oscilantes. Se durante a presidência de Tobin era apoiante do presidente democrata Roosevelt, mais recentemente tinha apoiado e financiado as campanhas de Ronald Reagan e de George H. W. Bush. Depois disso, apoiou Obama e Hillary Clinton, apesar do sindicato gerido pelo filho de Jimmy Hoffa manter também apoios a várias figuras destacadas dos republicanos.

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