O relatório Emissions Gap Report 2023: Broken Record – Temperatures hit new highs, yet world fails to cut emissions (again), divulgado segunda-feira pela agência das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP), aponta que, num momento em que “as emissões de gases com efeito de estufa atingem novos máximos, os recordes de temperatura vão sendo quebrados e os impactos climáticos intensificam-se”, verifica-se que “o mundo está a caminhar para um aumento de temperatura muito acima dos objetivos do Acordo de Paris, a menos que os países cumpram mais do que prometeram”.
No documento reconhecem-se “progressos” desde que o Acordo de Paris foi assinado, em 2015. “As emissões de gases com efeito de estufa em 2030, com base nas políticas em vigor, foram projetadas para aumentar 16 por cento no momento da adoção do acordo. Hoje, o aumento projetado é de 3%”, escrevem os cientistas.
Climate impacts are intensifying worldwide, yet emissions continue to rise.
UNEP's 2023 #EmissionsGap Report outlines the urgent steps needed to meet the Paris Agreement goals: https://t.co/2HfYZu82ih pic.twitter.com/udRBcDJRI6
— UN Environment Programme (@UNEP) November 20, 2023
Ainda assim, alertam que as emissões de gases com efeito de estufa previstas para 2030 terão de cair 28% para respeitar os 2°C estipulados no Acordo de Paris e 42% para a trajetória de 1,5°C.
O relatório destaca que, a manter-se a trajetória atual no que concerne às emissões de gases com efeito de estufa, apenas estaremos a limitar o aquecimento global a 2,9 graus Celsius até 2100.
Os peritos consideram que “os países com maior capacidade e responsabilidade pelas emissões terão de tomar medidas mais ambiciosas e apoiar as nações em desenvolvimento” à medida que estas procuram seguir um modelo de crescimento com baixas emissões.
Inger Andersen, diretora da UNEP, reiterou o alerta que tem vindo a ser lançado pela agência: “Vamos estar a dizer a mesma coisa no ano que vem – e no seguinte também, assim como no ano a seguir, como um disco riscado (…) a humanidade tem quebrado os recordes errados quando o assunto é alterações climáticas”.
Em 2022, as emissões de gases com efeito de estufa atingiram um novo recorde. As emissões cresceram 1,2% entre 2021 e 2022, quando deveriam ter sido reduzidas em entre 4 a 6% para limitar a subida da temperatura média entre 1,5 e 2 graus Celsius.
O Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), que preparou um relatório utilizando métodos epidemiológicos para relacionar temperatura e mortalidade, avança que mais de 70 mil pessoas poderão ter morrido prematuramente na Europa devido ao calor.
The burden of heat-related mortality during the summer of 2022 in Europe may have exceeded 70,000 deaths, according to a study led by #ISGlobal in collaboration with the @BSC_CNS.
Read more on our website:
https://t.co/EJRz3WImne pic.twitter.com/uZcrvu2uza— ISGlobal (@ISGLOBALorg) November 21, 2023
E é expectável que 2023 seja considerado o ano mais quente desde que há registo.
De acordo com o Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas, 17 de novembro foi o primeiro dia em que a temperatura global excedeu 2°C acima dos níveis pré-industriais, atingindo 2,07°C acima da média de 1850-1900. E o valor provisório para 18 de novembro é de 2,06°C.
ERA5 data from @CopernicusECMWF indicates that 17 November was the first day that the global temperature exceeded 2°C above pre-industrial levels, reaching 2.07°C above the 1850-1900 average and the provisional ERA5 value for 18 November is 2.06°C. pic.twitter.com/lLGwlCsZtP
— Copernicus ECMWF (@CopernicusECMWF) November 20, 2023
Combustíveis fósseis são “raiz envenenada da crise climática”
Durante a apresentação do relatório da UNEP, António Guterres frisou que o fosso entre os compromissos dos países em reduzirem emissões de gases com efeito de estufa, e aquilo que seria necessário para respeitar os objetivos do Acordo de Paris representa "um fracasso de liderança, uma traição aos que são vulneráveis e uma imensa oportunidade perdida". O Secretário-Geral das Nações Unidas pede “medidas drásticas” para conter o aquecimento global.
We know it is still possible to make the 1.5° limit a reality.
It requires tearing out the poisoned root of the climate crisis: fossil fuels.
And it demands a just, equitable renewables transition. pic.twitter.com/TQGNXcFdnW
— António Guterres (@antonioguterres) November 20, 2023
Num comentário ao relatório, citado numa nota de imprensa da UNEP, António Guterres também foi perentório: “Sabemos que ainda é possível tornar o limite de 1,5 graus Celsius uma realidade. Exige apenas que arranquemos a raiz envenenada da crise climática: os combustíveis fósseis. E exige uma transição justa e equitativa para as energias renováveis”.