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O regadio de Alqueva está a levar ao colapso da biodiversidade
A Associação Ambientalista Zero escolheu o Dia Internacional da Biodiversidade, que foi assinalado este domingo, para denunciar os efeitos do agronegócio desenvolvido a partir da barragem de Alqueva. A organização fala num “ecocídio”, ligando o sistema de regadio ao “colapso” da biodiversidade.
Os ambientalistas sublinham dois destes efeitos: o desaparecimento de populações de uma espécie de flora que só existe em Portugal e está ameaçada de extinção, a Linária dos Olivais (Linaria Ricardoi), e a destruição dos charcos temporários mediterrânicos. Sobre a primeira, que consta da Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental e foi eleita este ano a planta do ano numa votação promovida pela Sociedade Portuguesa de Botânica, avançam que, em três anos, só na área monitorizada, os perímetros de rega de Pisão, Alvito-Pisão, Ferreira e Valbom, Alfundão e Beringel-Beja, a espécie perdeu mais de 800 hectares do seu habitat. Sobre os segundos, refere-se a destruição total ou parcial de mais de 20 charcos temporários que deram lugar a culturas de regadio.
Mas o problema não fica por aqui, identificando-se, para além disso, o desaparecimento dos habitat de aves estepárias, a destruição das florestas-galerias, a degradação e destruição dos montados e a conversão cultural de sistemas agro-silvo-pastoris e a erradicação de vários endemismos ameaçados.
Em comunicado, a associação conclui que, por isso, “a biodiversidade na área de influência do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA) regista claros sinais de colapso, um desastre pré-anunciado mas que foi, e continua a ser, desvalorizado nos processos de Avaliação de Impacte Ambiental e na própria gestão do regadio” e que “dada a extensão dos danos ambientais causados e o conhecimento prévio destes impactes dificilmente mitigáveis”, a situação pode ser considerada um “ecocídio”.
A gestora do Alqueva, a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva (EDIA), conhece a situação. Ficou mesmo com a incumbência de tomar medidas para mitigar impactos, mas não está a fazer o suficiente. No caso da Linária dos Olivais, a monitorização é feita, mas “não estão a ser implementadas medidas para a efetiva proteção da espécie, e os sistemas agrícolas potenciados por Alqueva têm-se mostrado incompatíveis com a preservação da espécie” diz a Zero.
Esta “falha da proteção da biodiversidade na área de influência de Alqueva” mostra ainda a “inoperância da legislação de avaliação de impacte ambiental”. Para os ambientalistas, “os programas de monitorização e de conservação, na prática, têm apenas servido para documentar a catástrofe".
Não é só a EDIA que está sob a mira da associação. Também as “entidades competentes” são criticadas pela “recusa em tomar ações concertadas e consequentes para proteger a biodiversidade enquanto bem público, dentro dos quadros legais e regulamentares existentes”. Isso é, dizem, “demonstrativo de um favorecimento tácito dos interesses económicos do agro-negócio instalado nas regiões do Baixo Alentejo e Alentejo Central”.
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