O cerne da entrevista de Miguel Portas ao "i"

08 de julho 2011 - 0:02

Contributo de Jaime Crespo

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Para lá da tinta que já fez correr a opinião de Miguel Portas de que a renovação do Bloco de Esquerda só é possível com o afastamento de cargos directivos dos dirigentes fundadores e que a direcção do Bloco deve ser entregue a jovens com menos de 30 anos... enfim, tem a importância que tem, pela minha parte concordo com a primeira premissa apenas por uma questão de desgaste a que esses dirigentes terão sofrido, quanto à segunda, não considero relevante a questão da idade, nem é por se ser jovem que se tem ideias novas, uma pessoa de setenta anos pode estar perfeitamente lúcida enquanto um jovem de vinte e cinco anos completamente alienado.

Mas a entrevista traz uma importante interpretação do momento político actual e sobretudo do que aconteceu no acto eleitoral.

À questão: "Mas há certamente um problema de erros políticos. As sondagens diziam que mais de 30% dos eleitores não concordavam com o memorando da troika, mas, o PCP e o BE tiveram menos de 13%"

Miguel Portas responde, colocando o dedo onde a ferida está aberta e dói mais, respondendo assim: "Existem dois problemas. Existia uma proposta de alternativa à troika, essa proposta era que a renegociação da dívida fosse feita em versão europeia ou nacional, mas não existia uma alternativa política. Uma alternativa económica sem alternativa política é coxa para uma situação em que grande parte da população se vê confrontada com a ideia de bancarrota ou a possibilidade de não haver salários em Junho. O problema não esteve na proposta, nem na campanha, mas o facto de nem o Bloco nem o PC estarem em condições de responder à pergunta que as pessoas faziam: para que servem os votos em vocês se vocês não vão para o governo? A necessidade de um processo mobilizador política e socialmente que se pode consubstanciar na ideia de governar à esquerda é algo bastante mais do que Bloco e PCP. Exige um terceiro pilar de socialistas, independentes de movimentos sociais e académicos e estamos ainda longe disso. Paradoxalmente, esta era de credores em que estamos cria condições para um caminho deste tipo."

Paradoxalmente, a troika tem a solução política no âmbito da sociedade capitalista. A alternativa política tem que estar na sociedade socialista, ter medo das palavras ou inteligentemente fugir à questão e não ir até ao fundo, é um problema político dos dirigentes da esquerda com o qual os trabalhadores se confrontam.

Ou achamos, como os seus tributários, que o capitalismo é o melhor dos sistemas e tratamos de encontrar respostas às crises que sempre caem sobre a pele dos trabalhadores, ou em alternativa, vamos até ao fundo da questão, a necessidade de construir o socialismo e isso passa pela recusa e pela ruptura total com esta União Europeia e com todas as suas medidas limitadoras à acção dos governos nacionais e restritivas dos direitos laborais.

É difícil, é complicado? É! mas quem disse que a revolução era um caminho simples e fácil?