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O beijo na boca é universal?

Estudo prova que o beijo na boca é usado em menos de metade das sociedades humanas. No Dia Internacional do Beijo, republicamos este artigo do esquerda.net de fevereiro passado.
Foto de Michela Castiglione/Flickr

“Romeu - Em tua boca me limpo dos pecados. (Beija-a.)

Julieta - Que passaram, assim, para meus lábios.

Romeu - Pecados meus? Oh! Quero-os retornados. Devolve-mos.

Julieta - Beijais tal qual os sábios.”

William Shakespeare, Romeu e Julieta, ato I, cena V.

A sugestão de que o beijo no lábios era uma fonte de prazer universal para os humanos era recorrente. Afinal de contas, os chimpanzés e os bonobos fazem-no, e até abrem a boca e usam a língua. Mas não é verdade. Um estudo de William Jankowiak e Justin R. Garcia, publicado em julho de 2015, mostra que esse gesto apenas se encontra em menos de metade (46%) das 168 culturas estudadas pelos autores. Pelo contrário, outros tipos de beijos são usados por 90% das populações.

Parece haver alguns padrões para esta diferença. Por exemplo, em sociedades com diferentes classes sociais o beijo na boca costuma ser usado, mas em sociedades, como de caçadores recolectores, com pouca ou nenhuma estratificação social, não é comum. Isso demonstra que o beijo nos lábios é uma forma de demonstração de carinho muito culturalmente variável.

Por outro lado, como as tribos de caçadores recolectores costumam ser usadas como espelho das sociedades passadas, parece ser razoável, defendem os autores, que o beijo “romântico” tenha surgido numa atura relativamente recente da história humana. Uma exceção a esta conclusão dos autores do estudo é que em nova das onze comunidades do Círculo Polar Ártico as pessoas beijam-se.

A origem, ou origens, evolutivas dos beijos são desconhecidas. Os autores avançam que ter evoluído como teste da saúde de potenciais parceiros pelo paladar, ou para verificar compatibilidade genética através do cheiro do sistema imunitário, ou, simplesmente, para testar o interesse romântico e compatibilidade sexual entre potenciais parceiros.

A referência mais antiga a um beijo na boca é numa escritura em sânscrito com 3.500 anos chamada Vedas. Jankowiak e Garcia descrevem, num artigo no portal Sapiens, que quando as tribos Thonga da África do Sul ou os Mehinku na Amazónia viram pela primeira vez europeus a beijarem-se, reagiram com repugnância perante tão nojento comportamento.

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