Europeias 2024

Numa eleição sem "voto desperdiçado", Catarina pediu às pessoas que votem em quem confiam para as defender

07 de junho 2024 - 23:23

No comício final de campanha em Almada, Catarina Martins apelou ao voto lembrando que desta vez não há desculpas para não ir votar. E afirmou que cada voto no Bloco será decisivo para continuar a defender no Parlamento Europeu os direitos humanos, a paz, a transição climática justa, o salário e a casa para viver.

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Catarina Martins
Catarina Martins no comício de encerramento de campanha. Fotos de Ana Mendes.

Catarina Martins começou o comício final da campanha eleitoral para as eleições europeias em Almada - ver fotogaleria - a agradecer o trabalho dos jornalistas que a acompanham, marcando a diferença com quem “tenta intimidar jornalistas” porque “democracia é só com jornalismo livre”.

Em seguida, apelou a que se fale “com toda a gente para dizer três coisas muito simples”: que “não há desculpas para não ir votar” porque se pode votar em qualquer lado; que desta vez não há “voto desperdiçado” porque em todo o país se vota na mesma lista; que se deve perguntar “em quem é que confias para, nos próximos cinco anos, te defender”.

Esta questão desdobra-se na questão da paz, dos direitos e liberdades das mulheres, da deportação ou prisão de crianças, da denúncia quer de Putin quer de Netanyahu, da oposição à extrema direita, da defesa da habitação, do salário, do direito à saúde e da “vida boa de toda a gente em Portugal e na Europa”.

Catarina Martins

Salientou mais uma vez que nos últimos cinco anos PS e PSD votaram da mesma forma no Pacto das Migrações, “aquele atentado aos direitos humanos que faz com que o Mediterrâneo seja a fronteira mais mortífera do mundo”, em todos os dossiers económicos das coisas sobre o orçamento, até às coisas sobre o Banco Central Europeu, “que pesa tanto na prestação da casa de quem está a pagar a casa ao banco” entre outras.

Para ela, “um voto no Bloco de Esquerda nunca será um voto para pôr as pessoas umas contra as outras” ou “que semeia o ódio” mas o contrário: “o voto que sabe o que significa acolhimento”. O europeísmo do partido é assim apresentado como o da paz, dos direitos humanos, do salário, do tempo de trabalho justo, da casa onde se pode viver, que é capaz de dar resposta ao clima, por uma transição justa. E o Bloco está com quem lutou e “com quem faz todos os dias as conquistas fundamentais do nosso quotidiano”.

José Gusmão: “Ursula von der Leyen esteve ao lado do ocupado na Ucrânia e do ocupante no genocídio de Gaza”

Na sua intervenção, o segundo candidato e atual eurodeputado bloquista José Gusmão criticou o que chamou de “simulação” dos debates de campanha de socialistas, direita e liberais, os mesmos que “durante os últimos cinco anos concordaram em quase tudo que foi estrutural” na União Europeia.

E deu exemplo sobre a escolha da presidente da Comissão Europeia, eleita por aquelas três forças políticas. A mesma Ursula von der Leyen “que condenou o agressor na invasão da Ucrânia e o agredido no genocídio de Gaza, que esteve ao lado do ocupado na Ucrânia e do ocupante no genocídio de Gaza”. “Esta duplicidade é a marca de uma presidente da Comissão Europeia que ainda antes de o ser, já era uma representante da indústria da guerra, particularmente da alemã”, recordou José Gusmão.

José Gusmão

Também no tema da habitação, “todo o debate é uma simulação sobre o que o andaram a fazer no Parlamento” aquelas três forças políticas “que acham que o Parlamento não deve decidir sobre os custos da habitação e sobre todas as outras coisas que a política monetária influencia”.

Em terceiro lugar, naquilo que chamou a “página mais vergonhosa” do mandato que agora termina, “socialistas, Liberais e direita concordaram em concordar com a extrema direita sobre as migrações”, aprovando um pacto que levou a UE a “enterrar o direito ao asilo” e reforçar a política “que vai deixar mais mortes ainda no Mediterrâneo e mais gente a ser contratada pela União Europeia para abandonar pessoas no Sara ou devolvê-las a cenários de guerra”.

Durante esta campanha, “o único debate que acontecia era o debate entre a Catarina e o grande consenso do centro político europeu”, resumiu Gusmão, considerando que os temas trazidos à campanha pela candidata bloquista são “uma amostra do que será o seu mandato” e “uma garantia que nenhuma outra força política que trouxe a Europa onde a Europa está hoje pode dar”.

Anabela Rodrigues: “Continuo com este sonho que a Europa não seja aquela Europa esclavagista e colonial”

A terceira candidata da lista bloquista estava em quarto lugar na lista de 2019 e cumpriu os últimos meses do mandato em substituição de Marisa Matias, tornando-se a primeira afrodescendente eleita eurodeputada. Nesse período, promoveu a iniciativa inédita que levou quatro mulheres trabalhadoras de serviço doméstico a apresentar o seu manifesto pelo reconhecimento deste trabalho a nível europeu.

Anabela Rodrigues criticou a decisão do Governo de alterar a lei da imigração e a sua promulgação em poucas horas. “Como é que em metade de um dia, não foi um dia, foi metade de um dia, se consegue promulgar uma legislação e não se consegue em dois anos, em três anos, dar um simples título de residência, abrir agendamentos para o reagrupamento familiar, construir vias legais e seguras verdadeiramente”, questionou.

Anabela Rodrigues

E tal como no discurso de campanha de 2019, Anabela repetiu que tem um sonho: “que um dia nós vamos caminhar livremente, eu e vocês, sem importar a cor da nossa pele, sem importar o nosso status. E eu continuo com este sonho. Que a Europa não seja aquela Europa esclavagista. Que a Europa não seja aquela Europa colonial. Que a Europa não seja aquela Europa fortaleza. Que a Europa seja realmente a terra da liberdade, da igualdade, da oportunidade e da paz”, concluiu.

Fernando Rosas: Direita e socialistas “continuam a dançar a valsa, como se o Titanic europeu não corresse o risco do naufrágio”

Na sua intervenção, o historiador e fundador do Bloco apontou o contraste entre uma “campanha alegre e vácua onde a exceção é a voz da esquerda que Catarina Martins corporiza” e a gravidade do momento político europeu em que “a amplitude do desastre que parece preparar-se leva os partidos da extrema direita, da direita tradicional ou da social-democracia a uma estranha atitude, fingido que não se passa nada, a aceitar o futuro triunfante dessa União Europeia do capitalismo neoliberal e da NATO, que agora serve de paradigma”.

“O Bloco de Esquerda jamais se renderá às políticas belicistas dos velhos e novos senhores do mundo, e ao assassinato massivo e impune do povo de Gaza e da Palestina”, assegurou Fernando Rosas, contrapondo que “lutar contra a guerra dos impérios e por uma Europa socialista e democrática que a impeça é uma das principais razões para existirmos como partido político”.

Fernando Rosas alertou que a campanha belicista em curso tem como pano de fundo “a aliança da direita neoliberal com a nova extrema direita, num projeto de subversão política da democracia que poderá redundar, se não te fizermos frente, em regimes nacionalistas e autoritários de novo tipo, ou de tipo fascista”. E com o fim da simulação ideia do cordão sanitário, “a luta contra a extrema direita autoritária, xenófoba e racista, tornou-se um incontornável divisor de águas na política europeia”.

Fernando Rosas

A quem pergunta qual é a ideia de Europa desta esquerda, Rosas responde que ela “é escorada numa soma histórica de lutas transformadoras, conquistas e sacrifícios sem fim de milhões de mulheres e homens” a Europa das Revoluções Francesas, da Comuna de Paris, das gerações fundadoras do socialismo, da Revolução russa de 1917 e dos Conselhos alemães que alastraram ao ocidente até à greve geral portuguesa de 1918, a da heróica República espanhola e da resistência que derrotou o nazismo, da luta contra a guerra do Vietname, do maio de 68, da luta contra a ocupação da Checoslováquia pela URSS, da luta anticolonial, do 25 de Abril, do combate pelo direito do povo da Palestina constituir-se como estado livre e soberano.

“Por essa Europa da luta toda nos batemos. Correndo por dentro e correndo por fora das instituições europeias. E ficamos. E continuamos com ou sem ventos de feição. O próximo passo é levar a Catarina Martins e o José Guilherme ao Parlamento Europeu”, concluiu.

Joana Mortágua: “Há um sonho europeu que podemos construir juntos”

Joana Mortágua tratou de contrariar um comentário televisivo que dizia que “fora da linha submissa a Macron não existe sonho europeu”. Para ela, a “Europa dos nossos sonhos” está longe da “visão tecnocrata” que “tem medo da democracia”, não alinha naquilo a que Natália Correia chamava “uma ridícula e cavernosa ideia de atlantismo”, “não faz contratos de outsourcing de repressão para cometer fora das fronteiras da Europa as violações de direitos humanos que não podem ser cometidas cá dentro”. 

No Parlamento Europeu, o Bloco lutará assim por uma outra ideia para a Europa que não é a dos comentadores, nem a de Sebastião Bugalho ou de Marta Temido porque “o Bloco de Esquerda não anda na Europa a lamber as botas de Macron, de von der Leyen, nem de ninguém” e os seus eurodeputados responderão apenas “por ti, por nós”.

Joana Mortágua

A deputada dirigiu-se especialmente à sua geração “aquela a quem prometeram uma vida melhor mas pagaram com austeridade”, que cresceu com o Bloco e “sabem o que vale esta força”, apelando a que “não desistam” do “sonho europeu que ainda podemos construir juntos”, considerando que esta geração tem “a obrigação de sair de casa para salvar o futuro”.