O consórcio Gateway, do norte-americano David Neeleman e Humberto Pedrosa, do grupo Barraqueiro, vencedor da privatização da TAP, pretende financiar a empresa através da alienação de ativos que posteriormente alugará. Confuso/a? Soa-lhe estranho? Não, é apenas a história de mais uma privatização em Portugal.
Os novos proprietários vão vender parte dos aviões da TAP, que continuarão a utilizar através de um contrato de empréstimo, prevendo obter com a operação cerca de 100 milhões de euros.
Segundo o Jornal de Notícias, esta foi uma das medidas de capitalização apresentadas ao executivo de Pedro Passos Coelho. Outra, não menos “curiosa”, passa por “utilizar fontes de financiamento que a companhia atualmente já tem ao seu dispor”. Ou seja, tudo ferramentas de gestão que a empresa já detinha quando era pública e bem longe das promessas de injeção de liquidez que Governo e o agrupamento candidato prometiam publicamente.
“Acreditamos que seremos capazes de obter uma liquidez adicional de cem milhões de euros ou possivelmente mais até 90 dias após a data do fecho através de refinanciamento hipotecário das aeronaves e/ou sale e leseback”, lê-se na proposta a que o JN teve acesso e que se resume em três palavras: venda de aviões.
Aos 100 milhões junta-se outra proposta de financiamento, “quando a empresa passar de propriedade estatal para privada”, “até 250 milhões de euros para o período 2016-17 para apoiar a renovação da frota de aeronaves”, com recurso ao “Pre Delivery Payment”. Parece complexo, está escrito num termo técnico em inglês, mas não passa de um mero adiamento bancário para a aquisição de aeronaves.
Com tudo o que leu até ao momento, não ficará surpreendido se lhe disserem que a TAP, se continuasse pública, também poderia recorrer a este mecanismo.
A Gateway comprometeu-se em injetar 337,5 milhões de euros em novos fundos. A TAP foi privatizada por 10 milhões de euros.
Privatização portuguesa, nacionalização brasileira
Para o governo PSD/CDS era imprescindível privatizar a empresa e retirar o Estado do seu controlo. Curiosamente, a saída do Estado português vai ser colmatada com a entrada do Estado brasileiro, através do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDS), que a Gateway apresentou como parceiro e futuro acionista. “Estamos extremamente satisfeitos com o elevado nível de apoio, incentivo e orientação que estamos a receber ao mais alto nível do Estado brasileiro”.