Uma embarcação com destino à Itália levando a bordo cerca 700 imigrantes naufragou na madrugada deste domingo nas águas do Mediterrâneo a 60 milhas ao norte da costa da Líbia.
Até o momento, foram salvas 28 pessoas e recolhidos 24 cadáveres na operação de resgate que envolve a guarda costeira italiana e a marinha militar, em colaboração com a armada de Malta, e que envolve também um navio mercante de bandeira portuguesa.
Navio português
Segundo o relato de um dos sobreviventes, que foi repetido pela porta-voz do Alto-Comissariado da ONU para os refugiados na Europa do Sul, Carlotta Sami, a guarda costeira italiana terá recebido uma chamada de socorro durante a noite, pela embarcação que se encontrava em perigo. Perante a impossibilidade de chegar a tempo, a guarda costeira pediu a um navio português que navegava na zona e que se desviou até ao local do naufrágio.
Quando o navio se aproximou, os imigrantes “colocaram-se todos do mesmo lado da embarcação, provocando o naufrágio”.
O primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat, disse que está a desenrolar-se “a maior tragédia de sempre no Mediterrâneo”, e lamentou que o seu país e a Itália estejam "sozinhos nesta crise" – referindo-se aos naufrágios que fazem milhares de mortos por ano no Mediterrâneo.
"Malta tem tido problemas com a imigração, mas ninguém deveria ter de morrer", disse Muscat, advertindo que “se a União Europeia e o mundo continuarem a fechar os olhos, serão julgados da forma mais severa possível, tal como foram julgados no passado quando fecharam os olhos a genocídios enquanto os que viviam bem nada fizeram".
“Europeus têm de deixar de olhar para os migrantes como um papão".
Para a Presidente de Malta, Marie-Louise Coleiro Pesca, os cidadãos europeus têm de deixar de olhar para os migrantes "como um papão".
"Não podemos ter paz quando as pessoas agem de uma forma hostil contra os outros só porque têm uma pele mais escura ou porque usam um lenço na cabeça", disse a chefe de Estado de Malta.
"Não há soluções fáceis para a imigração. Já não se trata apenas de um problema de guerras. No mundo atual as pessoas movimentam-se, tal como os nossos filhos emigram para melhorarem as suas vidas. Se fossemos nós – se tivéssemos de abandonar as nossas casas para termos uma hipótese de viver com dignidade humana –, não correríamos o mesmo risco?"
Os corpos das vítimas estão a ser levados para a cidade de Catania, na Sicília. Ao todo, estão envolvidos nas operações 20 navios e três helicópteros de Itália e Malta.
O Papa Francisco também destacou a luta dos migrantes na busca por melhores oportunidades, expressando o seu "profundo lamento" pelo naufrágio desta madrugada.
“Governos europeus têm de enfrentar as suas responsabilidades”
John Dalhuisen, responsável da Amnistia Internacional na Europa e Ásia Central, disse que chegou a hora de os Governos europeus "enfrentarem as suas responsabilidades".
"Os navios da marinha mercante e as suas tripulações têm tentado preencher, de forma muito corajosa, os buracos deixados pela falta crónica de equipas de busca e salvamento especializadas, mas não foram construídos, nem estão equipados nem treinados, para resgates marítimos. Chegou a hora de os governos europeus enfrentarem as suas responsabilidades e lançarem uma operação humanitária para salvar vidas no mar", disse John Dalhuisen.
Rota mais mortífera do mundo
Em 2014, o Mediterrâneo tornou-se "a rota mais mortífera do mundo", com pelo menos 3419 mortes de migrantes que tentavam chegar à Europa, um número recorde, anunciou a Agência da ONU para os Refugiados em dezembro do ano passado.
Se se confirmarem os piores receios no naufrágio desta madrugada, desde Janeiro terão morrido cerca de 1500 pessoas no Mediterrâneo.
A União Europeia vai organizar uma reunião de urgência com os ministros do Interior e dos Negócios Estrangeiros por causa do naufrágio. O presidente francês François Hollande afirmou que esta pode vir a ser uma das "maiores catástrofes" dos últimos anos no Mediterrâneo, e defendeu que a Europa deve agir, reforçando o número de navios de salvamento e dos meios aéreos no Mediterrâneo.