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"Não podemos esquecer os direitos humanos": Bloco apela a Marcelo para não ir ao Qatar

Iniciativa entregue no Parlamento recomenda ao Governo que não se faça representar no Mundial de Futebol e condene publicamente as violações dos direitos humanos no Qatar. Organização do Portugal-Nigéria impediu entrada de camisolas da Amnistia Internacional.
Catarina Martins. Foto Ana Mendes

Catarina Martins apelou esta sexta-feira ao Presidente da República para não ir ao Qatar assistir a jogos do Mundial de Futebol, lembrando que "não podemos esquecer os números brutais" dos abusos a que aquele país submete os migrantes, o que terá causado pelo menos 6.500 mortes de trabalhadores da construção das infraestruturas necessárias para a realização do evento que começa este domingo, além das reiteradas violações dos direitos das mulheres, crianças e homossexuais.

"Queremos mesmo ter os altos representantes do Estado português neste Mundial? Nós achamos que não", prosseguiu Catarina, lembrando que segundo a Constituição as relações de Portugal com o mundo pautam-se pelo respeito dos direitos humanos. A coordenadora do Bloco referiu o projeto de resolução que o partido entregou na Assembleia da República a recomendar que o Governo não se faça representar pelas mesmas razões.

Na véspera houve o último jogo de preparação da seleção portuguesa, em Lisboa face à Nigéria, e o Presidente da República voltou a comparecer na zona de "entrevistas rápidas" a seguir ao jogo, depois de ter ido aos balneários. Questionado sobre se teria sido boa decisão entregar a organização do Mundial ao Qatar, Marcelo deu uma resposta desconcertante: “O Qatar não respeita os direitos humanos. Toda a construção dos estádios e tal..., mas, enfim, esqueçamos isto. É criticável, mas concentremo-nos na equipa. Começámos muito bem e terminámos em cheio”, disse o Presidente, que pretende assistir ao primeiro jogo de Portugal a 24 de novembro.

Catarina Martins diz que ficou surpreendida com as declarações de Marcelo e reafirmou que "não podemos esquecer os direitos humanos" e a situação num país com 100 mil trabalhadores em trabalho forçado, as mulheres não têm direitos, as relações homossexuais são perseguidas e as crianças não têm legislação que as proteja de maus-tratos.

Camisolas da Amnistia proibidas de entrar no Portugal-Nigéria

Antes do jogo de quinta-feira, a Amnistia Internacional distribuiu ao público cerca de mil t-shirts semelhantes aos coletes dos trabalhadores da construção civil para chamar a atenção para a "Equipa Esquecida" dos migrantes mortos e vítimas de abusos laborais e de direitos humanos. Mas à entrada do recinto, invocando ordens da organização do jogo, os seguranças obrigaram as pessoas a tirar e entregar-lhes as camisolas, não sendo permitida a entrada a quem as tivesse.

A Federação Portuguesa de Futebol disse à Lusa ter-se tratado de "excesso de zelo" por parte de alguns seguranças, mas Pedro A. Neto, diretor da AI Portugal, disse que mesmo depois do assunto ter sido clarificado, as camisolas continuaram a não poder entrar no estádio.

“Os organizadores e os anfitriões - seja em jogos olímpicos e em mundiais de futebol - gostam de acolher estes eventos para fazer um branqueamento às suas atuações e às ofensas a direitos humanos. Aquilo que a FIFA não pode ser é cúmplice disto, nem as seleções e países que participam”, afirmou odirigente da Amnistia

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