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Ministro alemão admite que troika e austeridade foram “instrumentos de tortura”

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha afirmou que, durante a atual crise, precisamos de apoio urgente sem as condições restritas impostas anteriormente. Matias Matias destaca que as declarações de Heiko Maas retiram "qualquer sentido aos discursos de validação da austeridade" e que "resta saber o que diz Centeno desta afirmação".
Heiko Mass, ministro dos Negócios Estrangeiros alemão. Foto de Zoltan Mathe, EPA, Lusa.
Heiko Mass, ministro dos Negócios Estrangeiros alemão. Foto de Zoltan Mathe, EPA, Lusa.

Em entrevista ao Der Spiegel sobre a situação dramática na Itália, Heiko Mass referiu que, “neste momento, estamos a lidar com a questão de como o país pode sobreviver a essa crise economicamente”, frisando que “será importante ver como a Itália é apoiada financeiramente”.

“Nesta crise, precisamos de apoio urgente sem nenhuma das condições estritas ou os ‘instrumentos de tortura’, ou seja, sem a troika ou medidas duras de austeridade”, defendeu, alertando que “os europeus do sul precisam rapidamente de uma oferta concreta e realista que os ajude economicamente”.

"Resta saber o que diz Centeno desta afirmação"

De acordo com Marisa Matias, as declarações de Heiko Maas retiram "qualquer sentido aos discursos de validação da austeridade".

“Afinal, parece que a Alemanha reconhece que a Troika foi um instrumento de tortura, o que retira qualquer sentido aos discursos de validação da austeridade", afirmou a eurodeputada bloquista em declarações ao esquerda.net.

"É só a confirmação de que a União Europeia não rima com solidariedade e que a competição se sobrepõe em qualquer circunstância. Hoje, como antes, o directório alemão dá as cartas. Centeno sabe-o bem. Não faz sentido que países como Portugal defendam mais as posições alemãs que as que apoiam os seus países. Resta saber o que diz Centeno desta afirmação", acrescentou. 

Uma assunção de culpas com dez anos de atraso

As declarações de Mass também suscitaram de imediato as reações dos gregos, que reconhecem nas mesmas uma assunção de culpa com dez anos de atraso. Na sua conta de Twitter, Yanis Faroufakis lembra, inclusive, o quanto foi atacado por dizer que o Eurogrupo fazia "waterboarding [forma de tortura que consiste no afogamento simulado] fiscal" à Grécia.

"Coronabounds não são possíveis neste governo"

Ao Der Spiegel, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha admitiu também que o argumento fundamental contra a emissão de títulos conjuntos, os chamados "coronabounds", reside no facto de não existir maioria na União Europeia a favor dos mesmos: “Com a CDU e a CSU, os coronabounds não são possíveis neste governo e o mesmo se aplica a outros governos europeus”. “Na crise atual, precisamos de respostas rápidas que possam ser acordadas na zona do euro”, assinalou.

Durante a entrevista, Heiko Maas criticou a forma como os Estados Unidos, a China e a Hungria têm combatido o coronavírus. A China, avançou, "adotou algumas medidas muito autoritárias, enquanto nos EUA o vírus foi subestimado por um longo tempo". A seu ver, estes são exemplos extremos, que não podem servir de modelo para a Europa.

“As medidas adotadas pela Europa, incluindo a quarentena e o isolamento social, mostram que mesmo democracias liberais podem impor medidas drásticas se forem proporcionadas e necessárias”, enfatizou, adiantando que não é necessário existir “um sistema autoritário” para controlar uma pandemia.

Sobre as medidas adotadas pelo primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, Mass defendeu que elas “não são proporcionais, em parte porque não têm limite de tempo”, e sinalizou que “a Europa deve discutir se, no futuro, a atribuição de fundos da UE deve depender do cumprimento dos princípios fundamentais do Estado de direito”.

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