Missão humanitária

Militares israelitas intimidaram flotilha durante a madrugada

01 de outubro 2025 - 12:48

Navios da Marinha italiana e espanhola não entraram na zona de exclusão definida por Netanyahu. Dois barcos foram alvo de ciberataque mas continuam a navegar rumo a Gaza.

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Barco da flotilha para Gaza.
Barco da flotilha para Gaza. Foto de Andoni Pititako/Flickr.

A flotilha humanitária continua a navegar em direção a Gaza e está já a cerca de 118 milhas náuticas do destino, aproximando-se agora do ponto onde o Madleen foi intercetado no ano passado. Os ativistas deixaram de contar com a companhia dos navios militares italianos e espanhóis, que se recusaram a entrar na zona de exclusão definida por Benjamin Netanyahu como zona de guerra.

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Durante a madrugada, embarcações da marinha israelita intimidaram dois dos barcos da flotilha, o Alma e o Syrius, rodeando-os a pouca distância através de manobras perigosas e causando estragos nos sistemas de navegações e comunicações, relataram Thiago Ávila e Lisi Proença em conferência de imprensa esta quarta-feira.

Nas redes sociais, a atriz Sofia Aparício insistiu que todos os membros da flotilha são civis e revelou que “até as facas da cozinha deitámos ao mar para que Israel não pudesse dizer que tínhamos facas de cozinha”.

Também a relatora especial da ONU para os territórios palestinianos ocupados, Francesca Albanese, interveio nesta conferência afirmando que “se a flotilha for intercetada, isso será não apenas um ato de intimidação e uma represália contra os ativistas, mas também uma violação do direito marítimo porque as águas de Gaza não estão sob soberania israelita. A chamada zona de combate é uma linha imaginária que Israel criou”.

Albanese lembrou o contexto desta iniciativa: “Gaza é um território ocupado ilegalmente e sujeito a um bloqueio há 17 anos. A flotilha tenta furar um bloqueio ilegal que afeta dois milhões de pessoas. A forma de punição coletiva agravou-se nos últimos dois anos, a ponto de Israel ser acusado de genocídio, crimes de guerra e contra os direitos humanos. O que a flotilha está a fazer e absolutamente legal. Israel tem a obrigação de deixar entrar a ajuda humanitária sem obstruções”.

Dizendo-se “envergonhada” pela ação do governo do seu país, após Meloni ter apelado à flotilha para que parasse e não entrasse na zona considerada de alto risco, Francesca Albanese afirmou que “não é a flotilha que ameaça a paz, é o genocídio e o regime de apartheid que ameaçam a paz”. E renovou o apelo à pressão sobre os governos, por entender que “a Europa precisa de enviar navios para quebrar o bloqueio e abrir um corredor para a entrada da ajuda humanitária.

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Também o Governo espanhol fez o mesmo apelo à flotilha para não entrar na zona das 150 milhas náuticas de distância de Gaza. Um apelo contestado por um dos partidos que integra o executivo de Pedro Sánchez, o Sumar, e pelo Podemos.

“A responsabilidade do Governo de Espanha não é pedir-lhes que se retirem, é protegê-los se decidem continuar”, afirmou o Sumar. Já a ex-deputada e coordenadora do Podemos nas Ilhas Baleares, que vai a bordo da flotilha, diz que “enquanto aqui na flotilha nos preparamos para ser sequestradas, o Governo informa que o seu navio não vai servir para nada e recomenda ‘encarecidamente’ que não continuemos porque poremos ‘em risco severo’ a nossa segurança. A nossa resposta: o Governo é cúmplice dos genocidas”. Também a líder do Podemos, Ione Belarra, apelou a Sánchez para que “use a fragata para escoltar a missão e não para a dissuadir”, por entre críticas à “política de manchetes que não servem para nada” deste executivo.

Dentro da flotilha, Mariana Mortágua criticou o plano de paz apresentado por Trump e aplaudido pelos governos europeus. "Com este acordo, Gaza será um território com livre circulação para o ocupante e autoridade colonial sob comando de um criminoso de guerra encartado, Tony Blair. Gaza precisa de paz, reconstrução e democracia. Deve ser a ONU - não Netanyahu e Trump - a garantir esse resultado", afirmou a coordenadora do Bloco nas redes sociais.

Em declarações à Antena 1 esta quarta-feira, Mariana Mortágua afirmou ter consciência de que "à medida que nos aproximamos de Gaza, o risco de Israel poder ter uma reação mais violenta ou muscular aumenta. Mas aumenta também a possibilidade de chegarmos a Gaza, porque estamos mais perto e neste momento em menos de 24 horas podemos estar mesmo a entrar em Gaza".

Em declarações aos jornalistas, o primeiro-ministro Luís Montenegro afirmou que “é necessário que haja muito sangue-frio, muito sentido de responsabilidade de todas as autoridades envolvidas e também das próprias pessoas que querem ter uma intervenção que quer produzir um efeito e que esperamos que não seja manchado por nenhum incidente”.

“Acompanhamos a situação dentro daquilo que são as nossas possibilidades e temos estado em contacto permanente com outros países”, acrescentou Luís Montenegro.


Notícia atualizada às 13h15 com declarações de Sofia Aparício, Mariana Mortágua e Luís Montenegro,