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Miguel Relvas não se lembra de receber mensagens de ex-espião da Ongoing

A teia do ex-espião que fez dos serviços secretos portugueses consultores da Ongoing envolveu também o braço direito de Passos Coelho. Segundo a imprensa, Silva Carvalho enviou a Miguel Relvas o seu plano para reformar o sistema de informações, indicando quem deveria ser nomeado e afastado. Relvas diz que não se lembra de nada. Dois dirigentes do SIED e do SIRP já foram demitidos.
Foto Luís Saraiva/GP PSD

Jorge Silva Carvalho saiu do Sistema de Informações Estratégicas de Defesa no fim de 2010, alegando discordâncias com o orçamento. Mas a investigação à rede da Ongoing na secreta portuguesa recolheu mensagens telefónicas em que Silva Carvalho e Nuno Vasconcellos (presidente da Ongoing) já combinavam as remunerações do espião para servir aquela empresa, meses antes da demissão.

Segundo tem sido noticiado na imprensa, essa troca de correspondência deixou claro que os conhecimentos e contactos de Silva Carvalho na espionagem seriam utilizados em benefício da Ongoing. Foi isso que aconteceu logo no primeiro trabalho de Silva Carvalho para a empresa, ao usar os contactos do SIED na Rússia para obter informação sobre empresários russos envolvidos num possível negócio da Ongoing na Grécia. E por isso será acusado de violação do segredo de Estado.

A edição desta quinta-feira do jornal i revela ainda que Silva Carvalho encaminhou os memorandos diários produzidos pelos serviços secretos com recortes de imprensa para os seus colegas da Ongoing, mas não só: várias personalidades dos meios políticos também recebiam estes clippings diários, entre os quais o ministro adjunto Miguel Relvas. Para a acusação, esta seria uma forma de Silva Carvalho se insinuar junto de políticos e gente influente, mas o jornal Público diz que o ex-espião fez chegar a Relvas um relatório detalhado para reformar os serviços de informação portugueses, propondo nomes da sua confiança para liderarem o SIS e o SIED, mas também nomes a evitar nas nomeações para esses cargos. Este email consta dos apensos do despacho de acusação do Ministério Público contra Silva Carvalho, Nuno Vasconcellos e João Luis, ex-agente do SIED.

Os emails e sms enviados quer a Miguel Relvas, então secretário-geral do PSD, quer ao seu chefe de gabinete enquanto ministro dos Assuntos Parlamentares, Vítor Sereno, são desvalorizados pelos destinatários. "Não tenho ideia de ter recebido qualquer informação particular, e disso não resultou qualquer interação da minha parte", comunicou por escrito o ministro. Já o chefe de gabinete diz que esteve com Silva Carvalho "apenas uma vez" e que nunca trocou emails com o ex-espião acusado de corrupção desde que é chefe de gabinete de Relvas

Os nomes de muitos dos espiões e quadros da Ongoing envolvidos neste caso estão também associados a uma loja maçónica (Mozart 49) entretanto caída em desgraça ao vir a público as suspeitas de tráfico de influências que seriam a sua finalidade. Para além de Vasconcellos, Carvalho, o semanário Sol apontou ainda como membros desta loja o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, o antigo vice-líder parlamentar laranja Agostinho Branquinho ou o chefe de gabinete do secretário de Estado da Presidência,  Francisco Martins.

Para já, o desfecho da acusação judicial provocou esta semana duas demissões no SIED: o seu diretor-adjunto, João Bicho e o diretor do Departamento Comum de Segurança, coronel Francisco Rodrigues, também apontado como membro da loja Mozart 49.

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