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Marisa vai à luta por "um país assente na coesão territorial e justiça social"

No distrito de Castelo Branco, Marisa Matias participou na marcha lenta contra as portagens, ouviu as dificuldades dos comerciantes e da população afetada pela Central de Biomassa no Fundão e testemunhou a poluição na albufeira de Santa Águeda.
Marisa com comerciantes no Fundão.
Marisa esteve esta sexta-feira com comerciantes no Fundão. Foto Ana Mendes.

Depois de uma semana de contacto com a população em Bragança, Vila Real e Viseu, esta sexta-feira foi mais um dia dedicado por Marisa Matias às dificuldades sentidas pelas populações no interior do país. Marisa Matias participou na marcha lenta contra as portagens da A23 e A25, organizada pela Plataforma pela Abolição das ex-SCUT, um protesto que partiu de vários pontos do distrito de Castelo Branco e da cidade da Guarda para terminar no Fundão.

A candidata presidencial explicou o motivo de se ter juntado a esta luta: “estou aqui a defender um modelo de país que tem de ser assente na coesão territorial e na justiça social”. Para Marisa, as portagens “afetam mais o interior do que outras regiões do país” porque são regiões “que não estão servidas de transportes públicos” e “que não têm as mesmas acessibilidades”.

O movimento pela abolição das portagens pode assim contar com o seu apoio “porque não podemos continuar a ter um país que tem tanta desigualdade do ponto de vista do investimento e do cuidado pelas populações”. Marisa afirmou que “falta vontade política para colocar o interior na agenda nacional e estamos a falar de uma parte fundamental do território para fazer um projeto de futuro, que nos permita fazer uma transição ecológica, que nos permita ter circuitos curtos de distribuição, que nos permita ter emprego de qualidade e que nos permita respeitar o ambiente e a saúde pública”.

Por sua vez, Jorge Mendes, da distrital do Bloco da Guarda, reiterou que “a posição do Bloco nacional e na Guarda foi sempre contra o pagamento das portagens e pela reposição das ex-SCUT. Portanto, esta luta para nós é uma luta extremamente justa”.

O dirigente acrescentou que “o Bloco já propôs por várias vezes a abolição completa das portagens, mas não tem sido possível. Neste momento, na Assembleia da República está uma proposta de eventual redução de 50% a partir de junho e mesmo não concordando com o pagamento de qualquer valor estaremos à disposição, no contexto atual, de pelo menos viabilizar isso em nome das populações”.

Numa democracia não se pode deixar ninguém para trás nem nenhum território para trás”

Antes da marcha lenta, a primeira paragem da volta pelo interior de Marisa Matias nesta sexta-feira foi a albufeira de Santa Águeda/Marateca, no concelho de Castelo Branco, onde foi acompanhada pela Plataforma de Defesa da Albufeira de Santa Águeda. Um dos seus ativistas, José Ribeiro, explicou algumas das ações do movimento: uma conferência técnica com especialistas que confirmaram os problemas ambientais, uma recolha de lixo na albufeira e a arborização de uma faixa com cerca de 300 salgueiros. A Plataforma tem lutado também para que seja colocada sinalética no local, para que se abram caminhos públicos e que sejam mostradas as análises feitas à água “porque já foram encontrados peixes mortos aqui nas margens e não nos foram facultadas”.

Ouvidas as razões dos ambientalistas, Marisa Matias confirmou que “continuamos a assistir a um crime ambiental e de saúde pública” e saudou a plataforma cidadã que continua a fazer o seu trabalho de pressão” apesar de continuarem “a não haver respostas”. “É preciso saber qual é o nível de contaminação e o que está a acontecer com esta água. Falta a vontade de proteger este ecossistema e a saúde das populações e é por isso que estou aqui”, declarou.

A candidata presidencial defendeu que “numa democracia não se pode deixar ninguém para trás nem nenhum território para trás e não é pelo facto de haver mais ou menos população de ser mais litoral ou mais interior que se pode fechar os olhos a este tipo de crimes”.

Para além disso, tomar posição em defesa do ambiente faz todo sentido para um Presidente da República: “proteger a Constituição passa por proteger os direitos dos cidadãos e das cidadãs e os direitos ambientais e saúde que estão consagrados”. Sendo o combate às alterações climáticas uma prioridade, “o Presidente da República tem que articular-se e cooperar para que consigamos em Portugal responder às ameaças das alterações climáticas, protegendo os direitos das pessoas”. Um caminho que é preciso fazer, “criando mais emprego, mais justiça social, mais coesão territorial”.

Os apoios têm que chegar ao pequeno comércio e temos que deixar de ter uma concorrência tão desleal das grandes superfícies”

A paragem seguinte foi um encontro com comerciantes no Fundão para falar das dificuldades sentidas pelo setor. Marisa Matias defendeu que “o pequeno comércio é a estrutura da economia, a nível nacional. E em cidades mais pequenas ou do interior ainda é uma estrutura mais basilar e por isso não podemos deixar que morra nem que passe pelas dificuldades que está a passar.”

Para isso não acontecer, “os apoios têm que chegar ao pequeno comércio e temos que deixar de ter uma concorrência tão desleal das grandes superfícies.” E se “muitos destes comerciantes já se adaptaram com medidas sanitárias para proteção das pessoas e para que se sintam seguras, é também a hora de os poderes públicos locais ou nacionais abrirem os olhos e não deixarem estas pessoas na mão”.

Presente neste encontro esteve também Cristina Guedes, deputada do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal do Fundão. A autarca informou que o partido tem feito “várias pressões” sobre situações como “a falta de apoio ao pequeno comércio”, chamando a atenção para que “algumas pequenas empresas não irão aguentar muito mais esta situação”. Também os temas ambientais têm sido destacados para defender “não só a economia a curto prazo mas também a longo prazo”. Aliás, Cristina Guedes defende que nem todas as indústrias que venha, para o interior são boas porque “se perdemos a qualidade do ambiente e o bem-estar então há aí limites”.

Central de Biomassa preocupa população

Ainda no Fundão, houve tempo para Marisa Matias ouvir as queixas sobre o ruído e a poeira causados pela Central de Biomassa. A candidata presidencial ajudou a colocar uma faixa que dizia: “Central de Biomassa incompatível com a população”.

Uma moradora nas imediações da instalação, Salete Amaral, diz que não lhes interessa receber uma indemnização para se irem embora, abandonando a casa “que muito lhe custou a construir”. A solução era a inversa: “irem-se embora” eles. Apesar de se congratular com o apoio de Marisa Matias e do Bloco de Esquerda à sua causa, confessa-se desanimada com a situação.

A sua vizinha Fernanda Andrade concorda que a Central deveria ir embora: “A única maneira de resolver a situação é através da deslocalização da central”. Se tal não for possível, aponta soluções menos más que passariam por “retirar os destroçadores e deixarem de moer ali as árvores” e também isolar a Central. A moradora critica a ineficácia das medidas que têm sido tomadas para mitigar os problemas e diz que, pelo contrário, “a Central cada vez emite mais ruídos e poeiras” e que “várias pessoas adoeceram desde que a Central começou a trabalhar”, desde problemas cardíacos e respiratórios”.

António Fiúza, da Distrital de Castelo Branco do Bloco, deu nota que a questão tem sido levantada pelo partido desde a primeira Assembleia Municipal em que estiveram presentes. Diz que “foi levada à Assembleia Municipal uma autorização que permitisse isentar de impostos uma central de Biomassa que é um projeto de interesse nacional” e “nós questionamos o porquê de não haver um estudo de impacto ambiental”.

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