Mariana Mortágua escreveu este sábado aos aderentes do Bloco de Esquerda para anunciar que não se recandidatará a um novo mandato enquanto coordenadora do partido. “Faço-o por acreditar que o Bloco beneficiará de ter, na coordenação e no parlamento, pessoas com melhores condições do que aquelas que hoje tenho para dar voz ao partido”, refere.
A coordenadora do Bloco faz um balanço em que reconhece que “a direção por mim encabeçada foi incapaz de inverter a excessiva centralização da estrutura do Bloco e gerar um novo impulso político e eleitoral” e de neutralizar “as empenhadas campanhas de ódio dos nossos adversários”.
Numa conferência de imprensa realizada ao final da tarde de sábado, Mariana Mortágua explicou que tomou uma decisão pessoal de não continuar a ser coordenadora do Bloco e de deixar a Assembleia da República após a conclusão do processo do Orçamento do Estado. Quanto à decisão sobre o futuro da liderança do Bloco, afirmou que essa “é uma decisão coletiva que acontecerá na próxima Convenção e sairá do debate entre as várias moções que são candidatas”, recusando-se a comentar cenários sobre a liderança futura no partido.
Mariana deixou palavras de agradecimento aos militantes que a acompanharam nos últimos dois anos de coordenação do Bloco e manifestou “orgulho e confiança” no partido, garantindo que “estarei aqui para construir a esquerda” e continuar a “fazer política e lutar pelo meu país e pelo meu povo, dentro do Bloco de Esquerda e contribuindo para o Bloco”.
Questionada pelos jornalistas sobre o momento em que tomou a decisão de não se recandidatar, a coordenadora do Bloco respondeu que essa reflexão iniciou-se no dia do resultado das últimas legislativas, mas considerou que seria irresponsável naquela altura, sem ter concluído essa reflexão, “tomar uma decisão irrefletida e deixar o Bloco numa situação de vazio até novembro”.
Leia aqui a carta de Mariana Mortágua aos aderentes do Bloco de Esquerda:
Camarada,
Há dois anos e meio, quando decidi candidatar-me à coordenação do Bloco de Esquerda, conhecia as difíceis condições políticas da esquerda e do nosso partido. Depois do colapso da maioria absoluta do PS e com o reforço da direita e da extrema-direita era preciso encontrar outros caminhos.
Considero que esse objetivo não foi cumprido. Não apenas porque continuou a redução do espaço eleitoral do Bloco, mas também porque a renovação que então fizemos não se revelou suficiente para relançar a nossa intervenção social.
A política, como a vida, somos nós e as nossas circunstâncias. Nestes dois anos e meio, a precipitação de sucessivas campanhas eleitorais tirou espaço e tempo à nossa reflexão interna e prejudicou uma transformação efetiva do funcionamento do Bloco. A direção por mim encabeçada foi incapaz de inverter a excessiva centralização da estrutura do Bloco e gerar um novo impulso político e eleitoral. Bem sabemos das empenhadas campanhas de ódio dos nossos adversários, mas o certo é que não conseguimos neutralizá-las.
Face a este balanço e agora que termino o mandato que me foi conferido na última Convenção, comunico-vos que decidi não me candidatar a um novo mandato de coordenadora do Bloco de Esquerda. Tomo esta decisão com a tranquilidade que me deu o constante apoio de todos os meus camaradas ao longo de todo este tempo. Faço-o por acreditar que o Bloco beneficiará de ter, na coordenação e no parlamento, pessoas com melhores condições do que aquelas que hoje tenho para dar voz ao partido. Caberá a cada uma das moções presentes à próxima Convenção apresentar as suas alternativas de direção. A pluralidade reforça-nos.
A esquerda em geral - e o Bloco em particular - atravessa um período difícil e não é só no nosso país. No Bloco, temos orgulho em juntar diferentes gerações, experiências e sensibilidades que são parte essencial da luta popular em Portugal, nos combates do trabalho, da casa, contra as guerras e pela autodeterminação dos povos do mundo.
Estes são os tempos que nos toca viver e o Bloco tem a história, as ideias, a coerência e a militância para os enfrentar e para surpreender mais uma vez quem se assanha para nos atacar. Não temos medo e venceremos os novos fascistas e toda a opressão com a força da ideia socialista. Serei parte desse caminho, como sou há quase vinte anos. Confio neste partido, na gente que o faz. Conta comigo.
Um abraço
Mariana
Notícia atualizada com as declarações na conferência de imprensa.