No debate da moção de censura apresentada pelo PCP, esta quarta-feira, Luís Montenegro anunciou que iria apresentar uma moção de confiança ao Governo. E se a primeira tinha o chumbo garantido, a segunda também não passará, dadas as posições já expressas pelos diversos partidos com representação parlamentar.
Na sua intervenção, Mariana Mortágua considerou que Montenegro “não tem legitimidade para ser primeiro-ministro” e que apresentou a moção de confiança “porque não quer dar explicações e prefere arrastar o país para eleições a dar explicações que lhes foram pedidas”.
Sobre o caso da empresa do primeiro-ministro, a porta-voz bloquista notou que esta “foi apresentada como familiar e que cada vez mais nos parece uma empresa pessoal” e que Montenegro “escondeu ao longo das últimas semanas os nomes de clientes, os valores específicos e os serviços que foram prestados”.
Para além de não esclarecer, acusou, “tudo o que fez foi confundir-nos”, tendo falado de uma empresa criada para gerir património familiar “quando tudo indica que esse seja o menor e o último dos fins, descreveu terrenos com pormenor mas ocultou o nome dos clientes e dos serviços que postou, deu pormenores irrelevantes sobre a sua família que nunca lhe foram pedidos e que eram perfeitamente dispensáveis para a clarificação necessária”.
Somando tudo, o primeiro-ministro “não conseguiu refutar a ideia essencial que é que aquelas avenças foram pagas a si enquanto já era primeiro-ministro através da empresa”, sendo este o facto determinante para não ter a confiança da maioria dos deputados da Assembleia da República.
Depois disso, Mariana Mortágua apresentou as razões do Bloco de Esquerda para votar contra a moção de confiança que será apresentada pelo Governo: pela ausência de explicações; de falta de separação entre interesses privados e o interesse público, o considera ser “uma marca da governação do PSD”; porque “temos as casas mais caras da OCDE” e “quase ninguém no país consegue pagar uma renda ou uma casa mas o Governo entende impor uma lei dos solos que abre a porta à especulação em solos rústicos”; pela situação na Saúde, com a ministra a ser confrontada com “o desastre no INEM”, com a falta de resposta para as urgências e para os hospitais, e com a entrega de “bocados do SNS aos privados”.
A conclusão foi assim pela ausência de confiança “num governo que confunde interesses privados com o interesse público” e num primeiro-ministro que “confunde o seu interesse particular com o interesse do país”.