Manifestação pela democracia reprimida em Luanda

10 de março 2012 - 12:04

Alguns dos jovens que convocaram a manifestação deste sábado a pedir a demissão da presidente da Comissão Nacional Eleitoral e de José Eduardo dos Santos foram agredidos durante a semana. No início da concentração, a polícia interveio à bastonada, deixando vários feridos, entre os quais o líder do Bloco Democrático, Filomeno Vieira Lopes.

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O secretário-geral do Bloco Democrático foi uma das vítimas das agressões por parte da polícia à paisana contra os manifestantes em Luanda.

«Tivemos que dispersar, porque logo que nos começámos a concentrar, a polícia, e civis que consideramos serem agentes à paisana, começaram a bater e a prender», disse Adolfo Campos à agência Lusa. A repressão policial deixou ferido o rapper Ikonoclasta (Luaty Beirão), atingido na cabeça e também o secretário-geral do Bloco Democrático, Filomeno Vieira Lopes.

"Fui agredido quando estava a conversar com mais pessoas na zona da Sagrada Família, junto ao Hospital Militar, depois de ter alertado por telefone a comandante provincial da Polícia Nacional, Bety Franque, de que vários civis, de óculos escuros e empunhando barras de ferro se estavam a aproximar do local onde me encontrava", disse à Lusa. Filomeno Vieira Lopes resposabiliza Eduardo dos Santos pela repressão deste sábado. "Ele é o único responsável. Mas isto não vai parar e vamos continuar a exigir a sua demissão e a criação de condições para termos eleições livres e justas em Angola", afirmou.

A manifestação convocada pelo Movimento Revolucionário Estudantil exigia o afastamento da presidente da Comissão Nacional Eleitoral e a demissão de José Eduardo dos Santos, que acusam de se manter há 32 anos na presidência de Angola sem ter sido eleito. "A continuação de Suzana Inglês à frente da CNE não garante eleições livres nem justas e é para exigir o seu afastamento que nos vamos manifestar nas ruas. Vamos também exigir a demissão de José Eduardo dos Santos, Presidente não eleito e há 32 anos no poder", disse Mário Domingos. Com a última mudança na Constituição, as eleições presidenciais desapareceram, com o candidato do partido mais votado a ser nomeado chefe de Estado.



Durante a semana, dois organizadores do protesto foram raptados e espancados por desconhecidos, antes de serem atirados para fora de um carro em andamento, segundo o relato de Mário Domingos, um dos ativistas vítima deste sequestro, que aponta responsabilidades ao dirigente do MPLA Bento Kangamba, com quem os agressores estariam em contato durante o sequestro.