Mais dinheiro para a banca, inutilmente

15 de junho 2014 - 17:07

O BCE não resolverá quase nada, limitando-se a proporcionar mais dinheiro aos bancos europeus, porque já se comprovou que, assim, não se aumentam os rendimentos das empresas e consumidores, dos quais depende que haja despesa. Por Juan Torres López

porJuan Torres López

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Do atual BCE e do fundamentalismo dos dirigentes europeus, não virá nada de bom a países como a Espanha – Foto European Central Bank/flickr

As medidas que o Banco Central Europeu anunciou, a semana passada, para que o crédito aumente, dando mais dinheiro aos bancos, baixando as taxas de juro e penalizando os seus depósitos, foram recebidas como um marco histórico, mas temo que haja razões fundamentadas para pensar que não servirão de muito.

É verdade que o crédito ou não chega às empresas e aos consumidores ou, quando chega, é muito caro, o que dificulta a recuperação económica. Mas, essa falta de financiamento não acontece por falta de liquidez. O problema real está na insolvência da economia no seu conjunto, dos consumidores, empresas e banca. As empresas em atividade estão menos interessadas em obter mais financiamento do que em desendividarem-se e o que necessitam as que têm problemas por falta de clientes é de uma efetiva procura, isto é, que os seus potenciais compradores tenham mais dinheiro para gastar.

Pode-se adiantar que o Banco Central Europeu (BCE) não resolverá quase nada, limitando-se a proporcionar mais dinheiro aos bancos europeus, porque já se comprovou que, assim, não se aumentam os rendimentos das empresas e consumidores, dos quais depende que haja despesa. E só o incremento desta última pode fazer com que aumente a atividade, o emprego e os rendimentos, diminuindo, assim, a insolvência de consumidores e empresas, que está a afundar a procura e a dificultar o seu acesso ao crédito disponível. Além disso, para que os bancos emprestem mais, e mais barato, não só necessitam de liquidez (que já têm de sobra) e de empresas e consumidores mais solventes, como, também, de mais capital. E o próprio Graghi reconheceu, em várias ocasiões, durante os últimos meses, que a banca europeia ainda não saneou os seus balanços (algo que, por certo, corresponde ao BCE evitar). Portanto, ele sabe, melhor que ninguém, que, enquanto isto for assim, os bancos não vão dar crédito nem na quantidade, nem na taxa de juro que a economia europeia necessitaria, para andar para a frente, por muito mais liquidez que tenham.

Finalmente, a teoria económica adverte, também, para o pouco êxito que estas medidas terão. Como assinalou, há muito tempo, o Nobel James Tobin, a ideia de que as coisas podem funcionar, pondo, de um lado, os assuntos do dinheiro e dos preços e, do outro, os relativos ao orçamento, aos impostos, emprego e produção, como se vem fazendo na Europa, é uma falácia.

Países como a Espanha, ou comunidades como a Andaluzia, faziam bem em desconfiar destas medidas e começar a pensar em como dispor de fontes de financiamento alternativas para as suas empresas e consumidores, porque, do atual BCE e do fundamentalismo dos dirigentes europeus, não lhes virá nada de bom.

Artigo de Juan Torres López, disponível em Ganas de Escribir. Tradução de Maria José Santos (Blogue oqueelesescondem.blogspot.pt)

Juan Torres López
Sobre o/a autor(a)

Juan Torres López

Catedrático de Economia Aplicada da Universidade de Málaga (Espanha). Conselho Científico de Attac-Espanha. A sua página web é: www.juantorreslopez.com