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Luís Moita (1939-2023)

Foi um dos protagonistas entre os católicos contra a guerra e a ditadura. Em democracia, dedicou-se à cooperação com África e mais tarde à academia na área das relações internacionais e do estudo da paz e dos conflitos armados.
Luís Moita. Foto UAL.

Faleceu este sábado Luís Moita, um dos protagonistas da vigília da Capela do Rato em 1972 e que prosseguiu a sua intervenção cívica em democracia nos domínios da cooperação com os países africanos em desenvolvimento e no estudo das questões da guerra e da paz.

A religião foi uma constante na juventude, com cinco anos passados a estudar em Itália, onde se doutorou em Ética pela Universidade Lateranense (Itália), em 1967, com a classificação “summa cum laude” (10/10). Até 1971 foi sacerdote católico e uma das principais vozes da oposição católica à guerra e à ditadura, o que lhe valeu a prisão política em Caxias, destacando-se a participação na vigília da Capela do Rato em dezembro de 1972, e a edição do "Boletim Anti-Colonial" com Nuno Teotónio Pereira.

Após a Revolução, foi governante durante 23 dias, ocupando a Secretaria de Estado da Emigração. "Já sabíamos que o V Governo provisório era para durar pouco. O PR Costa Gomes disse-o na posse. Mas o MNE, Mário Ruivo, convenceu-me: disse-me era importante para a esquerda estar no governo, em posição de força", contou ao Expresso 34 anos depois. Dirigiu durante 15 anos o CIDAC, organização não governamental portuguesa de cooperação para o desenvolvimento. E disse que foi essa experiência que o habilitou a aceitar o convite da Universidade Autónoma de Lisboa para lecionar a partir de 1988 a cadeira de Sociologia do Desenvolvimento, seguindo-se a Sociologia das Relações Internacionais.

Entre 1989 e 1997 lecionou a Cadeira de “Filosofia e Deontologia do Serviço Social” no Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa. Foi Professor Associado Convidado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (até Outubro de 1998).
Entre 1992 e 2009 foi Vice Reitor da Universidade Autónoma de Lisboa, onde além de dirigir o departamento de Relações Internacionais também coordenou a unidade de investigação OBSERVARE.

A par da ligação a África, o estudo dos conflitos armados e da cultura da paz acompanharam o seu trabalho académico e também a intervenção cívica anti-guerra. No 10 de Junho de 1998 foi condecorado pelo Presidente da República portuguesa com a Grande Cruz da Ordem da Liberdade e em 7 de janeiro de 2005 foi condecorado pelo Presidente da República italiana como Grande Oficial da Ordine della Stella della Solidarietá Italiana. Numa nota publicada este sábado no sítio oficial da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa escreve que “Luís Moita foi um democrata e um lutador pela justiça social, militante pela igualdade e pelas liberdades do nosso e de todos os povos”.

"A vida do Luís Moita foi uma fonte. Os tantos e tantas que com ele aprendemos o que é ser gente decente e arrojada perdemos hoje um pilar da nossa vida", afirmou o dirigente bloquista José Manuel Pureza. Luís Moita participou em 2014 na abertura do Fórum Socialismo em Évora.

O Bloco de Esquerda e o Esquerda.net endereçam sentidas condolências à sua família e amigos.

O velório de Luís Moita realiza-se na segunda-feira a partir das 18h30 na igreja de Santa Isabel, em Lisboa, onde terá lugar uma missa na terça-feira às 15h.

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