Lucro recorde das petrolíferas reabre debate sobre imposto especial

09 de fevereiro 2022 - 16:30

Shell e BP viram os seus lucros disparar para mais de 30 mil milhões de euros no ano passado, enquanto a população britânica se debate com os aumentos na fatura da energia.

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Foto Mike Mozart/Flickr

O anúncio dos resultados financeiros das duas petrolíferas coincidiu com a decisão do regulador britânico da energia em aumentar o preço pago pelos consumidores, que irá aumentar a fatura da maior parte das famílias em 54% a partir de abril. Em resposta, o governo conservador anunciou uma redução fiscal de 150 libras (cerca de 178 euros) que irá abranger 20 milhões de famílias e um empréstimo de 200 libras (237 euros) em outubro, a ser pago em prestações nos anos seguintes. Apoios insuficientes para fazer face ao aumento de preços, que segundo a Resolution Foundation irá fazer duplicar para cinco milhões o número de famílias em “stress energético”, ou seja, que pagam mais de 10% do orçamento familiar em energia.

Neste contexto de crise, o anúncio dos lucros de 19,3 mil milhões de euros da Shell e de 11,2 mil milhões da BP vieram reabrir o debate sobre a introdução de um “windfall tax” - um imposto extraordinário sobre empresas que obtêm lucros inesperados, sobretudo quando ajudadas pelas condições da economia.

No mês passado, o ministro-sombra trabalhista para as alterações climáticas, Ed Miliband, propôs que as petrolíferas fossem taxadas em 1.2 mil milhões de libras (1.430 milhões de euros) para ajudar famílias e empresas a enfrentarem o aumento dos preços. Essa receita daria para um corte médio de 200 libras (238 euros) por família e mais um corte de 600 libras (713 euros) dirigido aos agregados em maiores dificuldades. Mas o governo recusou, com o argumento de que as petrolíferas também atravessam dificuldades, já depois de ter recusado também uma descida do IVA sobre o preço da energia.

Nos últimos doze anos, as grandes petrolíferas entregaram aos seus acionistas 175 mil milhões de euros em dividendos ou recompra de ações. No último ano, o aumento do preço do petróleo e da gasolina vendida justifica o disparar dos lucros agora anunciados.

Um relatório do Institute for Fiscal Studies citado pelo Guardian diz que os compromissos de remuneração aos acionistas da BP corresponde à quase totalidade da receita antes de impostos e são duas vezes e meia superiores aos impostos pagos no mesmo período. Além disso, os subsídios aos combustíveis fósseis pagos pelos contribuintes britânicos ascenderam a 14.260 milhões de euros anuais nos últimos cinco anos.