Sete homens que estavam detidos num centro de imigrantes na Albânia vão ser transferidos de volta para Itália, devido à decisão de juízes italianos. A ordem judicial contraria o acordo entre o governo de Giorgia Meloni e o governo albanês para a detenção de requerentes de asilo.
As sete pessoas tinham sido salvas por autoridades italianas em águas internacionais a tentar chegar à Europa e enviadas para o porto de Shëngjin, Albânia. O governo de Meloni condenou a decisão dos juízes, tomada na segunda-feira, acusando os magistrados de serem “politizados” e de quererem “abolir as fronteiras italianas”.
É a segunda vez que o sistema judicial em Itália contraria o acordo feito por Meloni, ordenando que os requerentes de asilo voltem para a Itália depois de terem sido transportados até à Albânia, avança o Guardian. Segundo esse acordo, homens requerentes de asilo de países que sejam considerados “seguros” e que sejam salvos a atravessar de África até à Europa, são enviados para a Albânia enquanto os seus pedidos de asilo são processados. As mulheres, crianças e indivíduos “vulneráveis” ficam de fora desse acordo, mantendo-se em Itália.
Itália
Tribunal ordena regresso de migrantes que Meloni tinha expulsado para a Albânia
Desde que o acordo entrou em efeito, a 11 de outubro, apenas 24 pessoas foram enviadas para a Albânia. Está prevista uma capacidade máxima de três mil pessoas por mês. E todas as 24 pessoas foram transferidas de volta para a Itália devido a decisões judiciais que consideram que elas não podem ser enviadas de volta para o seu país de origem.
O acordo foi rotulado como “desumano”, “absurdo” e “dispendioso” por várias organizações não-governamentais, aponta o Guardian. O governo italiano criou uma lista de 18 países que considera “seguras”, onde estão o Egito e o Bangladeche. Os cidadãos desses países que chegam a Itália através do Mediterrâneo e que são intercetados, são enviados para a Albânia para lá ficarem detidos.
Elon Musk ataca juízes e embaraça Meloni
A notícia do esperado fracasso do plano de Meloni para externalizar o processamento dos pedidos de asilo correu mundo e provocou a reação do bilionário recém-nomeado para integrar a administração Trump. “Estes juízes têm de ser afastados”, disse Elon Musk na rede social que adquiriu e rebatizou com a sua “letra favorita”, o X.
Sem surpresa, as palavras do bilionário não caíram bem junto da justiça italiana, com um membro do Conselho Superior da Magistratura, Ernesto Carbone, a considerá-las “perigosas” e “uma ameaça para a democracia”. Mas a interferência de Musk na política italiana também embaraçou o próprio governo da extrema-direita e os seus aliados parlamentares. Maurizio Lupi, ex-ministro dos Transportes nos governos de Enrico Letta e Matteo Renzi, agora deputado e líder do partido Noi Moderati, apelidou os comentários de Musk de “inapropriados”, temendo poderem contribuir para acirrar ainda mais a reação tensa entre governo e poder judicial.
Do lado da oposição, sucederam-se as exigências para que a primeira-ministra venha a público condenar as declarações do bilionário. “Em nome de quem é que Musk está a falar? Se é em nome próprio, as declarações têm pouco peso. Mas se ele fala pelo presidente Trump, então isso seria uma interferência grave e temos o direito de pedir que a primeira-ministra Meloni aja para defender a integridade da justiça italiana. Manter o silêncio sobre um assunto destes seria muito preocupante”, escreveu também no X o eurodeputado Sandro Ruotolo, do Partido Democrático. Já o secretário do partido +Europa Riccardo Maggi, preferiu lembrar a retórica nacionalista de Meloni e Salvini, perguntando-lhes se agora irão defender a soberania de Itália face à interferência de Musk.
Do lado de Salvini, não é de esperar essa defesa. Bem pelo contrário, o líder da Lega que já tinha sido apoiado por Musk no processo judicial de que é alvo por ter retardado a entrada do barco do Open Arms que resgatara dezenas de migrantes à deriva no Mediterrâneo, foi rápido a vir em socorro do bilionário e apoiar as suas críticas aos juizes de Itália: “Musk tem razão. Eu parei as chegadas de migrantes e agora enfrento [uma acusação que pode levar a] seis anos de prisão. Visto de fora, deve parecer ainda mais inacreditável”, diz o atual vice-primeiro-ministro.
A relação entre Musk e Meloni é bastante próxima. O bilionário foi convidado de honra da conferência anual do seu partido Fratelli d’Italia realizada este ano e em setembro Meloni quis receber das mãos de Musk o “prémio de cidadã global” do Atlantic Council em Nova Iorque, o que terá provocado desconforto entre alguns membros. Na semana passada, o secretário-geral do partido europeu ECR e considerado o braço-direito de Meloni em Bruxelas, Antonio Giordano, afirmou numa entrevista que Meloni é vista como “a interlocutora natural” de Donald Trump na Europa.