Itália

Jornalista italiano agredido pela extrema-direita

23 de julho 2024 - 16:58

Militantes da CasaPound, um movimento de referência da extrema-direita europeia, atacaram Andrea Joly do La Stampa quando este filmava uma festa que realizavam na rua. A oposição fala num clima de impunidade e pede que se cumpra a constituição italiana e se ilegalizem os grupos neofascistas.

PARTILHAR
Imagem de um dos vídeos que documenta a agressão ao jornalista do La Stampa
Imagem de um dos vídeos que documenta a agressão ao jornalista do La Stampa

Andrea Joly, jornalista do La Stampa, foi atacado no sábado à noite por militantes de extrema-direita que faziam uma festa nas ruas de Turim. Os agressores foram identificados como pertencendo ao Casa Pound, um movimento neofascista que surgiu a partir de um “centro social” de Roma que mimetizou os espaços de solidariedade construídos pela esquerda.

A oposição exige intervenção imediata do Governo italiano. Elly Schlein, líder do social-liberal Partido Democrata, diz estar “preocupada” com o “clima de impunidade” que continua a existir face a factos tão graves” e questionou o que mais terá de acontecer antes que se dissolvam as organizações neofascistas “como diz a Constituição”.

O dirigente do Movimento Cinco Estrelas, Giuseppe Conte, por seu turno, considera que estamos perante um “incidente grave e inaceitável mas não um caso isolado: os alarmes sobre algumas derivas antidemocráticas no nosso país já soaram várias vezes”, lembra, acrescentando é preciso intervir para acabar com “estes surtos delirantes de arrogância e violência”.

O porta-voz da Aliança Verde Esquerda, Angelo Bonelli, considerou tratar-se de um “ataque brutal”, dirigindo-se diretamente ao ministro do Interior: “o que espera para intervir? É inaceitável que, em 2024, continuem a existir grupos neofascistas que atuem impunemente”.

Também a Associação Nacional de Resistentes de Itália afirmou ser “hora de dissolver organizações neofascistas”.

A primeira-ministra de extrema-direita, Giorgia Meloni, não fala no cumprimento da constituição mas emitiu também um comunicado em que diz que “a atenção do governo é máxima” em relação à situação, condenando “fortemente” o sucedido, mostrando-se solidária com o jornalista vítima de uma agressão “inaceitável”.

O jornalista do La Stampa teve de receber tratamento médico num hospital depois de ter sido agredido e pontapeado quando já estava no chão e tentava fugir. Os neofascistas lançavam fogos de artifício e cantavam canções fascistas fora do edifício do Asso di Bastoni, um clube que faz parte da rede da CasaPound, para comemorar o seu 16º aniversário e Andrea Joly filmava o sucedido. A violência começou quando se dirigiram a ele e recusou que lhe roubassem o telemóvel por estar a gravar o evento.

Esta terça-feira, a polícia afirmou ter identificado quatro dos atacantes. Sabia-se já que dois eram militantes da CasaPound de Turim, com 45 e 53 anos, agora foram também revelados outros dois de 35 e 46 anos. As suas casas, assim como o clube neofascista, foram alvo de rusgas e estes enfrentam acusações de agressão agravada por motivos fúteis.

Apesar de tudo ter ficado filmado pelo menos por três fontes diferentes, a CasaPound diz que a investigação é “simplesmente um desperdício de dinheiro público” e manifesta apoio aos agressores. Promete defender uma outra versão dos factos falando numa “provocação” e uma situação que “foi exagerada e explorada”.

A vítima explica num vídeo publicado pelo seu jornal que “apenas estava a fazer o meu trabalho” e que o que lhe aconteceu “podia ter acontecido a qualquer cidadão curioso e isso é o que assusta mais”. Enquanto estava a ser espancado diz que teve medo de ser estrangulado porque não conseguia respirar.