O jornalista Ricardo Alexandre publicou em setembro de 2011 a primeira biografia de João Aguardela, o vocalista e inspirador dos Sitiados, e depois da Naifa, e do projeto Megafone, entre outros empreendimentos. João Aguardela morreu há três anos, de cancro, ainda não tinha completado 40 anos. E, no entanto, marcou a música portuguesa durante um longo período, foi uma estrela e foi um exemplo de anti-estrela.
A biografia descreve esta trajetória de forma minuciosa e com uma amizade que é tão sincera como comovente. Muitos dos amigos e companheiros de Aguardela são chamados a contar episódios, a teia da vida vai sendo descrita, mas há sempre a música. Sou um músico, dizia Aguardela, e assim foi. Criava, inventava e estudava. Ouvia tudo e dos seus discos - os discos eram a necessidade para fazer os espetáculos, que era onde a banda se sentia bem - aprende-se uma redescoberta intrigada sobre muitos géneros, do fado à balada e do rock à pop. Os Sitiados tinham tudo e, se bem que os projetos seguintes fossem mais direcionados, como o Megafone, a redescoberta da música perdida e esquecida nas aldeias, essa mesma curiosidade era a sua profissão de músico.
Muitos dos testemunhos contam da grandeza de João Aguardela, da sua generosidade e vontade de viver com os outros. E de olhar para o que se passa: "Zangam-se e reconciliam-se pelo poder de estar à janela (...)/São sempre as mesmas caras, são sempre as mesmas caras" (1995, São sempre as mesmas caras, Sitiados). E têm razão. Talvez seja afinal isso que fica, acima de tudo, essa vontade de refazer, tudo começar de novo, contar tudo, cantar tudo, a arte ao serviço do concerto, para concertar tudo. Era assim este homem de que fica o livro.