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Irão fecha instituto francês em retaliação contra caricaturas de Khamenei

O semanário satírico Charlie Hebdo solidarizou-se com a revolta do povo iraniano abrindo o concurso "Fora com os mulás" para as melhores caricaturas do líder supremo Ali Khamenei. O resultado não agradou às autoridades.
Algumas das caricaturas de Ali Khamenei publicadas na edição desta semana no Charlie Hebdo.

A edição especial "7 de janeiro" do Charlie Hebdo - data que marca o aniversário do atentado islamista contra o jornal em 2015 - é dedicada à solidariedade com o levatamento do povo iraniano contra o regime dos mulás, que nos últimos meses tem abalado o Irão e provocado a repressão feroz do regime. Desde a morte em setembro da jovem Mahsa Amini, sob detenção pela policia dos costumes por infringir o código de vestuário que impõe o uso do véu em público, centenas de pessoas foram mortas pelas forças de segurança durante os protestos que se seguiram.

Para ilustrar a iniciativa, o Charlie Hebdo lançou em dezembro o concurso internacional "Fora com os mulás" para premiar a caricatura "mais engraçada e maliciosa" do líder supremo iraniano Ali Khamenei. Das mais de 300 caricaturas recebidas de países como o Irão, a Turquia, os Estados Unidos, Senegal ou Austrália, o jornal escolheu 35 e publicou-as na edição desta quarta-feira. "Todos os participantes no concurso ganharam um lugar no inferno", anuncia o jornal, sublinhando que além das centenas de caricaturas recebeu também milhares de ameaças.

"A nossa intenção foi a de apoiar a luta dos iranianos pela liberdade, ridicularizando este chefe religioso retrógrado e enviando-o de volta para o caixote do lixo da história", refere o jornal.

 Algumas das caricaturas de Ali Khamenei selecionadas no concurso "Fora com os mulás"

No editorial desta semana, Riss lembra que em 1993 as autoridades iranianas lançaram um concurso de caricaturas tendo como alvo o escritor Salman Rushdie com o objetivo de "retratar a verdadeira conspiração por detrás do romance blasfemo" dos Verículos Satânicos. "Sem este concurso lançado pelos ayatollahs iranianos que queriam ridicularizar Rushdie, talvez nunca tivéssemos tido a ideia de publicar, treze anos mais tarde, as caricaturas de Maomé, nem hoje os do atual Líder supremo iraniano. Ao menos, só por essa razão, podemos dizer-lhes obrigado!", conclui o editorialista.

Irão diz que não aceita "os insultos contra as suas santidades"

A publicação do resultado do concurso provocou a reação imediata do regime contra o que apelida de "insulto" ao seu líder religioso. O governo de Teerão mandou fechar as atividades do Instituto francês de investigação no Irão (IFRI), um organismo ligado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros de França e cuja biblioteca é muito procurada por estudantes da língua grancesa e universitários iranianos.

Antes deste anúncio, o embaixador francês em Teerão tinha sido chamado à sede da diplomacia iraniana para receber o protesto do regime. Um porta-voz do Ministério diz que foi comunicado a Nicolas Roche que “o Irão não aceita os insultos contra as suas santidades e os valores islâmicos, religiosos ou nacionais e que a França não tem direito a justificar os insultos aos valores sagrados de outros países e nações muçulmanas, sob o pretexto da liberdade de expressão”.

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