O triunfo do oposicionista Narendra Modi, do Partido Bharatiya Janata, de direita nacionalista constitui-se na maior vitória eleitoral da Índia nos últimos 30 anos, infligindo uma dura derrota na dinastia política dos Nehru-Gandhi, que dirigiu o pais, durante a maior parte do tempo, desde a vitória da independência na luta anticolonial.
A vitória de Modi já era antecipada pelo mercado financeiro, que apostava nesse resultado, e vai representar profundos ataques aos trabalhadores indianos, cuja situação de vida já é extremamente dura.
Maioria parlamentar
Pela primeira vez, em 25 anos, um partido governará com maioria parlamentar. Espera-se que a Aliança Democrática nacional, dirigida pelo PBJ, obtenha 340 das 543 cadeiras, e o Congresso Nacional Indiano, partido da elite gandhiana, apenas 44. Uma derrota avassaladora do seu oponente, Rahul Gandhi.
A vitória de Modi já era antecipada pelo mercado financeiro, que apostava nesse resultado, e vai representar profundos ataques aos trabalhadores indianos, cuja situação de vida já é extremamente dura.
A vitoria de Modi expressou mais do que nada a crise política da dinastia Gandhi, através do seu representante no governo o primeiro-ministro Manmohan Singh.
Durante o mandato de Singh, a corrupção foi uma constante, assim como a ineficácia do serviço e das instituições públicas, o que levou a um grande descrédito da população. Também no terreno económico, a Índia viu o seu crescimento económico desacelerado e, com a alta inflacionária, principalmente os trabalhadores sentiram no bolso os ataques, sofrendo com o aumento do preço da alimentação e outros bens necessários no quotidiano. O crescimento acelerado, para os padrões mundiais recessivos, vivido durante um certo período, não foi suficiente para garantir trabalho para milhões de jovens que tentam ingressar mensalmente no mercado de trabalho.
A vitória de um nacionalista com as mãos sujas de sangue
Modi foi durante três mandatos governador do estado de Gujarat. Foi um dos impulsionadores da organização de extrema-direita Rashtriya Swayamsevak Sangh (União Nacional Voluntária). Durante o seu primeiro mandato, em 2002, foi acusado de não ter impedido ou até mesmo de ter instigado violentos confrontos que levaram à morte de 1000 pessoas em Gujarat, na sua maioria muçulmanos. Processado, não se conseguiu provar a sua responsabilidade nesse episódio.
Com todo o respeito ao povo da Índia, a política desse país é um grave caso de ninho de bandidos. Segundo a Associação pelas Reformas Democráticas, 34% dos candidatos eleitos nestas eleições tem processos criminais contra eles. São acusados de ações como assassinato, sequestro e violação. Com relação às eleições passados, o número de “honoráveis” políticos aumentou 4%. Desse total, dos nove candidatos eleitos que têm processos por assassinato, quatro pertencem ao partido de Modi, o PBJ. Esses números falam por si e, sobre o quesito corrupção, é mais do que evidente o que será este novo governo.
Após a vitória, Modi dirigiu-se aos 1.250 milhões de indianos e falou das necessidades de se desenvolver mais a economia. Sabemos, pela sua trajetória no governo de Gujarat que, agora, irá implementar a nível nacional uma política neoliberal baseada em austeridade, privatizações e mais aperto sobre os já bem baixos salários dos trabalhadores indianos.
Convite de Obama
A importância da sua vitória, para as potências imperialistas, fez-se sentir de imediato com as congratulações e o convite, feito por Obama, para que visite a Casa Branca. Em 2005, sob a presidência de George W. Bush, foi-lhe negado o visto americano, já que uma lei impede a entrada de estrangeiros que tenham cometido severas violações da liberdade religiosa. Da mesma maneira, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, predispõe-se a estender o tapete vermelho quando Modi vá a Londres.
A vitória de Modi não transformará a Índia na maior democracia do planeta, como afirmam erradamente a maioria dos analistas políticos, já que a esquerda, os comunistas dos diversos matizes estão banidos e na ilegalidade, impedindo, dessa maneira, que os trabalhadores elejam os seus próprios representantes.
Na Índia que Modi irá dirigir, continuará a guerra civil e a existência de dois governos, o oficial e também o das regiões dominadas pela guerrilha maoista no cinturão vermelho do Golfo de Bengala.
Apesar das suas promessas de campanha, com o seu passado político, não há como acreditar que o seu governo vá acabar com a violência, principalmente sexual, que atinge milhões de mulheres em todo o país.