Debate Bloco/Chega

Humanismo e soluções pela habitação contra a política do ódio e o racismo

22 de abril 2025 - 0:10

No frente a frente entre Mariana Mortágua e André Ventura, a dirigente bloquista acusou a extrema-direita de esconder um imposto na sua proposta de tarifas às importações e reiterou a proposta de tetos aos preços das rendas. O líder do Chega não conseguiu responder sobre tarifas nem sobre habitação.

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Mariana Mortágua debate com André Ventura

As diferenças entre esquerda e extrema-direita ficaram claras no frente a frente desta segunda-feira entre Mariana Mortágua e André Ventura, ainda que este não tenha respondido a alguns dos temas centrais, como as tarifas e habitação.

O debate começou com breves notas sobre a notícia da morte do Papa, com Mariana Mortágua a considerá-lo “uma figura maior do século XXI” e “um sábio que abraçou a humanidade” e André Ventura a fazer questão de sublinhar que “não concordou em tudo” com ele.

O imposto escondido nas tarifas de André Ventura

O primeiro tema a debate foi a política fiscal, com a coordenadora do Bloco a falar no “imposto escondido que André Ventura defende e que ainda não disse ao país” ao impor tarifas às importações. Apesar de ser “o único político português que defende o ataque de Donald Trump às empresas portuguesas”, prosseguiu Mariana, Ventura não explica às pequenas e médias empresas portuguesas que dependem das exportações para os Estados Unidos “como é que vão pagar o salário mínimo depois de levarem com as tarifas de Trump”. Mas outra coisa estava por explicar: uma tarifa sobre importações “teria como efeito imediato aumentar o preço dos combustíveis”, apontou.

Ao seu estilo habitual, o presidente do Chega fez tudo para não explicar o que defende sobre tarifas e os seus efeitos económicos e limitou-se a falar em exportações baratas de alguns países, em como o seu partido protegeria a economia europeia e Bloco apoiaria a economia chinesa.

Mariana Mortágua vinha preparada para o argumento de que a economia portuguesa estava a ser inundada de produtos de países fora da Europa e, usando peças Lego, mostrou a diferença entre os 75% de importações que vêm da União Europeia, os 5% que vêm da China e os níveis ainda menores do Brasil, Índia, Paquistão e Bangladesh.

Ainda no plano da economia, o líder de extrema-direita ensaiou um contra-ataque acusando o Bloco de querer fazer nacionalizações através de um “socialismo cego” que “não sabe como funciona a economia”.

Questionada sobre onde iria arranjar dinheiro para nacionalizar setores estratégicos da economia, a dirigente bloquista explicou que, por exemplo, uma participação maioritária na EDP “se fosse comprada a preços do mercado hoje valia dois anos de benefício fiscal a estrangeiros ricos que André Ventura defende”. E acrescentou que essas empresas “deram lucros e pagaram em dividendos” aos acionistas o preço que lhes custou a aquisição ao Estado.

Mas não deixou também de trazer à colação o parágrafo do Relatório Anual de Segurança Interna que fala sobre os perigos para o país de os seus setores estratégicos e cruciais para a soberania e defesa portuguesa, como a energia, “estarem nas mãos de Estados estrangeiros”. Isto porque o controlo acionista da EDP e a REN, que detém toda a infraestrutura elétrica, são detidas por um Estado estrangeiro, o chinês. Lembrando ainda que “na altura, quando o PSD privatizou e quando Passos Coelho e Paulo Portas foram apertar a mão ao Estado Chinês e ao Partido Comunista Chinês, ninguém ouviu um pio de André Ventura, que era dirigente do PSD”.

Bloco insiste nos tetos às rendas, líder do Chega não conseguiu apresentar uma proposta sobre habitação

No tema da habitação, a dirigente bloquista reiterou a proposta de tetos às rendas, considerando que, pelo contrário, o Chega “defende o alojamento local descontrolado, os vistos gold, os benefícios fiscais para estrangeiros ricos comprarem casas em Portugal, a especulação imobiliária”. Ou seja, “no fundo, defende o sistema, a elite e os preços da habitação”.

Confrontado com isto, André Ventura preferiu desconversar sobre o Bloco “apoiar a ocupação ilegal de casas” e a “invasão da propriedade privada”. Mariana Mortágua respondeu-lhe que o seu partido quer “casas legais para toda a gente, tetos e paredes para toda a gente” e salientando que Ventura “não é capaz de me dar uma política para baixar o preço das casas”, defendendo apenas uma política de ódio.

Imigração: o humanismo contra racismo

No tema da imigração, as diferenças entre os dois partidos também ficaram bem vincadas. O chefe da extrema-direita portuguesa acusou o Bloco de querer “bandalheira para ter votos”, de defender o “descontrolo absoluto” e querer um país “sem regras e sem segurança”.

Do lado bloquista, Mariana Mortágua explicou a proposta de que as pessoas que residam em Portugal há pelo menos quatro anos possam eleger e ser eleitas para a Assembleia da República, para as Assembleias Regionais e para as autarquias porque “se são bons para pagar impostos então podem ter uma palavra a dizer”.

A escolha, para ela, é se regularizamos e integramos quem chega para trabalhar porque é preciso para a economia ou se “queremos mais imigração clandestina e mais máfias da imigração”.

Para além disso, desfez a ligação habitual da extrema-direita entre imigração e crime, lembrando que os dados estatísticos explicados pelo diretor da Polícia Judiciária mostram que esta não existe. A coordenadora do Bloco diz que Ventura “não quer saber da segurança”, lembra que “o crime que mais mata é a violência doméstica”.

Assim, a política do Bloco “é para todos, é humanismo” e a do Chega “é ódio, é crueldade, é ganhar no egoísmo”, é o “racismo”, concluiu Mariana Mortágua.