Dezenas de pessoas participaram no debate que teve lugar no histórico café Santa Cruz, na baixa da cidade. O deputado bloquista eleito por Coimbra apresentou as razões para censurar o governo e comentou a reacção de muitos comentadores à iniciativa do Bloco. "São os mesmos comentadores que na véspera do anúncio da nossa moção estavam a discutir quando é que o PSD a deveria apresentar", recordou José Manuel Pureza. "O Bloco estragou-lhes o jogo", concluiu.
"Hoje temos uma maioria absolutíssima do PS e do PSD na condução das políticas essenciais, ao mesmo tempo que se acusam mutuamente e atribuem ao outro as responsabilidades pelo estado em que deixaram o país", afirmou Pureza para defender a necessidade de clarificação deste "nevoeiro político".
O líder parlamentar bloquista lembrou ainda que "esta é a 27ª moção de censura da democracia portuguesa e apenas uma derrubou um governo". E acrescentou que julga ser muito significativa "a corrida entre PSD e CDS para ver qual chegava primeiro para segurar o engº Sócrates".
José Manuel Pureza elencou também as razões da moção de censura, dizendo que os 770 mil desempregados que existem no país significam não apenas a "desgraça social" que está à vista, mas também "um desperdício de recursos extraordinário". A subida do desemprego prevista esta semana pelo Banco de Portugal e a subida em flecha da precariedade nos últimos anos foram outros elementos que ajudam a entender, na opinião do deputado, que hoje em dia "todos temos bem a noção do apodrecimento da vida económica e social portuguesa", bem reflectido "num exército de desemprecários que hoje representa metade da força de trabalho em Portugal" ou no "sacrifício duma geração e das gerações a seguir, cujo horizonte é não ter trabalho ou entrar na experiência laboral sem direitos mínimos".
A propósito da situação financeira do país, Pureza afirmou que um terço dos credores vêm da banca nacional. "Esta chantagem dos mercados sobre as despesas socials é feita por entidades que bem conhecemos. Os especuladores não estão lá fora. Estão aqui". E acrescentou que os quatro maiores bancos privados portugueses aumentaram os lucros em 2010 e pagaram menos imposto que no ano anterior. "O BPI teve mesmo um crédito fiscal e vai cobrar-nos mais de 5 milhões de euros", concluiu o deputado.
O debate com o público centrou-se também na oportunidade da apresentação da moção de censura, com o dirigente bloquista a dizer que "qualquer iniciativa desta natureza é um gesto arriscado" e que hoje há a certeza que a censura a este governo é partilhada pela maior parte da população.
"Estamos a assistir a uma quebra do contrato social pela mão do PS e do PSD: a primeira vez que Sócrates e Passos Coelho se sentaram à mesa foi para reduzirem o subsidio de desemprego. Agora querem o embaratecimento dos despedimentos com o supremo cinismo de porem o trabalhador despedido a pagar o seu despedimento", resumiu o líder da bancada do Bloco em São Bento.