Guterres quer taxar poluidores, Gustavo Petro exige fim da guerra às drogas

21 de setembro 2022 - 17:57

Na Assembleia Geral da ONU, António Guterres defendeu um imposto extraordinário para compensar os países afetados pela crise climática. Presidente da Colômbia acusou a guerra às drogas de ser uma "guerra contra a floresta e as pessoas".

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António Guterres na Assembleia Geral da ONU esta terça-feira.

No discurso proferido na abertura da sessão da Assembleia Geral da ONU esta terça-feira em Nova Iorque, o secretário-geral da organização defendeu que "os poluidores têm de pagar" pelos estragos causados pelas cheias, vagas de calor e outros fenómenos climáticos extremos que assolam os países mais vulneráveis e que não contribuíram para as alterações climáticas.

"Hoje, lanço um apelo a todas as economias desenvolvidas para taxarem os lucros extraordinários das empresas de combustíveis fósseis", afirmou António Guterres, acrescentando que "esses fundos devem ser redirecionados de duas formas: para os países que sofrem perdas e danos causados pela crise climática e para as pessoas que se debatem com o aumento dos preços dos alimentos e da energia". Mas foi mais longe e defendeu que a intervenção dos governos deve ir além das empresas poluidoras, mas também aos negócios que as sustentam, incluindo "os bancos, fundos de capital privados, gestores de ativos e outras instituições financeiras que continuam a investir e a apoiar a poluição carbónica".

Num discurso considerado pelo Guardian como "o mais urgente e sombrio" até hoje, Guterres começou por avisar que "o nosso mundo está num grande sarilho", prevendo "um inverno de descontentamento global no horizonte, uma crise do custo de vida a grassar, a confiança a esboroar-se, as desigualdades a explodir e o nosso planeta a arder".

"Temos o dever de agir e estamos bloqueados numa disfunção global colossal. A comunidade internacional não está pronta nem disposta a enfrentar os grandes e dramáticos desafios do nosso tempo", acusou Guterres, que ja tinha alertado para o "vício" dos combustíveis fósseis por parte dos governos e classificado os novos investimentos em petróleo, carvão e gás como uma "loucura económica e moral". Desta vez, apelou aos líderes mundiais para porem fim à sua "guerra suicida contra a natureza".

"Temos encontro marcado com o desastre climático. Os verões mais quentes de hoje podem vir a ser os verões mais frescos amanhã. Os choques climáticos que acontecem uma vez na vida podem em breve ocorrer uma vez por ano. E a cada desastre climático, sabemos que as mulheres e raparigas são as mais afetadas. A clise climática é um caso de estudo da injustiça moral e económica", alertou.

“É hipócrita declarar guerra contra as drogas"

No seu primeiro discurso na ONU enquanto chefe de Estado, o presidente colombiano Gustavo Petro deixou um apelo aos países latino-americanos para que "unam forças para acabar com a guerra às drogas na região". E comparou os danos para a saúde causados pela cocaína aos do carvão e do petróleo. “A decisão do poder ordenou que a cocaína é o veneno e deve ser perseguida, mesmo que só cause mortes por overdose e pelas misturas causadas pela sua clandestinidade estabelecida.”, enquanto o carvão e o petróleo "devem ser protegidos, mesmo que os seus usos levem a humanidade à extinção”, contrapôs.

Para Gustavo Petro, a guerra às drogas "é um pedido do Norte" e a planta da coca, em tempos “sagrada para os incas”, leva hoje à prisão aqueles que a cultivam. “Exijo daqui, da minha América Latina ferida, que acabem com a guerra irracional contra as drogas. Para reduzir o uso de drogas não são precisas guerras, somos todos precisos para construir uma sociedade melhor: uma sociedade mais solidária, mais afetuosa, onde a intensidade da vida salva dos vícios e das novas escravidões. Querem menos drogas? Pensem em menos lucros e em mais amor. Pensem num exercício racional de poder”, prosseguiu o Presidente da Colômbia.

“É hipócrita declarar guerra contra as drogas, quando na verdade é contra a floresta e contra as pessoas”, apontou Gustavo Petro, lembrando que “os responsáveis pelos vícios em drogas não são as florestas, mas a falta de racionalidade do poder mundial” e que os Estados Unidos "verão 2,8 milhões de jovens morrer de overdose devido ao fentanil, que não é produzido na América Latina”.

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Num discurso voltado para a proteção da floresta, acusou os poderes mundiais de hipocrisia. "A floresta queima, senhores, enquanto vocês fazem guerra e brincam com ela. A floresta, o pilar climático do mundo, desaparece com toda a sua vida. A grande esponja que absorve o CO2 planetário evapora. A floresta salvadora é vista no meu país como o inimigo a ser derrotado, como a vegetação a ser extinta. O espaço da coca e dos camponeses que a cultivam, porque não têm mais nada para cultivar, é demonizado. Para vocês, o meu país interessa-vos apenas para lançar venenos nas suas florestas, levar os seus homens para a cadeia e atirar as suas mulheres para a exclusão. Não estão interessados na educação da criança, mas em matar a sua floresta e extrair o carvão e o petróleo das suas entranhas. A esponja que absorve os venenos não serve, preferem lançar mais venenos na atmosfera", lamentou.

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