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“A Grécia descarrilou”: manifestações e greves após acidente mortal

“Estamos todos na mesma carruagem” foi uma das palavras de ordem que juntou esta quarta-feira dezenas de milhares de pessoas nas ruas da Grécia. Este foi o oitavo dia consecutivo de manifestações, desta feita em 76 cidades de todo o país, depois de no passado dia 28 de fevereiro um acidente ferroviário ter feito 57 vítimas mortais, a maior parte estudantes, como resultado de um choque frontal entre um comboio de passageiros e um comboio de carga.
Ao mesmo tempo, o ADEDY, sindicato dos funcionários públicos, organizou uma greve de 24 horas que paralisou transportes, o porto do Pireu, os serviços de saúde e educação, entre outros setores. Os funcionários públicos manifestam assim a sua solidariedade com os ferroviários, que, estão em greve há mais de uma semana, exigindo a modernização das linhas férreas do país e a contratação de mais pessoal, “que terminem as políticas de privatizações” e que “se apurem as verdadeiras responsabilidades pelo crime homicida”, como caraterizam o sucedido.
À Reuters, o dirigente sindical dos maquinistas, Kostas Genidounias, recorda amargamente que a melhoria de protocolos de segurança era reivindicada há anos: “nós, maquinistas, apresentámos queixas sobre estas coisas, fizemos greves por causa disto, avisámos, protestámos. Disseram-nos que estávamos a mentir, que éramos caluniosos, que escondíamos outros interesses. No final de contas, os trabalhadores estavam certos.”
Empresa ferroviária privatizada pela troika, modernização com fundos europeus evaporou-se
A Hellenic Train foi uma das empresas públicas que foram privatizadas devido às políticas de austeridade na sequência da crise da dívida pública grega. Em 2017, foi vendida à Ferrovie Dello Stato Italiane por 45 milhões de euros. A privatização era uma das obrigações imposta pela troika na sua intervenção no país.
Para além das privatizações, questiona-se o destino dos contratos de 700 milhões de euros, assinados com a União Europeia e respeitantes a 16 grandes projetos de transportes, a maior parte ligados à modernização da ferrovia, que não chegaram a ser implementados.
Com as próximas eleições legislativas previstas para 9 de abril e o mandato governamental a acabar em julho, o clima político está tenso e já há rumores de que aquelas podem ser adiadas. O conservador Kyriakos Mitsotakis, que começou por alegar que o acidente se devera apenas a um “trágico erro humano” do chefe de estação de comboios de Larisa, acabou por admitir a falta de medidas de segurança e de sistemas automatizados de controlo de tráfego, tendo pedido “um grande perdão” aos gregos e descrito o sistema ferroviário como uma das piores expressões do país.
Nasos Iliopoulos, do Syriza, o partido mais votado da oposição, em declarações citadas pelo Guardian, diz que “isto é mais do que um choque entre comboios e um trágico acidente ferroviário. Fica-se a sentir que o país descarrilou”.
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