Itália

Governo italiano volta a dividir-se sobre apoio à Ucrânia

02 de setembro 2024 - 16:27

A confusão surgiu no final de uma “cimeira” destinada a renovar o pacto entre os partidos de Governo, com a Liga a divulgar uma versão diferente do comunicado conjunto.

PARTILHAR
Meloni e Salvini
Meloni e Salvini no Parlamento em junho. Foto Governo de Itália.

Foi tudo um grande mal-entendido ou mais uma jogada de Matteo Salvini para marcar a diferença face a Giorgia Meloni? Em Itália as opiniões dividem-se sobre o que se passou na sexta-feira, logo após uma reunião de líderes dos Irmãos de Itália, Liga e Força Itália, que compõem o atual executivo, com o objetivo de renovarem o pacto de coligação.

Em poucos minutos, os jornalistas receberam dos vários partidos o texto da declaração conjunta desta “cimeira”, mas não demoraram a perceber que havia diferenças no conteúdo na parte que dizia respeito à Ucrânia.

Assim, enquanto o comunicado distribuído pelos partidos de Meloni e Antonio Tajani sublinhava “o apoio partilhado à posição do governo quanto à guerra da Ucrânia”, o comunicado distribuído pelo partido de Salvini falava do “apoio a Kiev, mas oposição a qualquer intervenção militar fora das fronteiras da Ucrânia”.

Naturalmente, a existência de diferentes versões da posição conjunta levantou polémica e a Liga retirou a sua poucos minutos depois, atribuindo as culpas à pressa na divulgação. Salvini viria a explicar depois que “o texto - enviado por engano mas prontamente corrigido - foi alterado em acordo total com todos os outros líderes apenas por razões de estilo e não de conteúdo”.

Extrema-direita

Ventura integra Chega na teia de Putin

15 de julho 2024

Mas um ministro do governo da extrema-direita italiana que preferiu manter o anonimato disse à agência ANSA que “ninguém acredita que foi só um engano; isto cria um problema porque vem estragar o ambiente” que se pretendia de concórdia e unidade entre a maioria de governo no arranque do novo ano parlamentar. No seu discurso na reunião de Conselho de Ministros, relata a agência noticiosa italiana, Giorgia Meloni não faz referências explícitas à guerra na Ucrânia.

“Fica à vista a chantagem da Liga sobre o Governo quanto à Ucrânia

O gabinete de imprensa da Liga veio ainda esclarecer que “não há qualquer conflito” e que “para a maioria e para o Governo, são válidas as declarações feitas ontem pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Antonio Tajani”, segundo as quais “o uso de armas italianas só pode ter lugar dentro da Ucrânia”.

O assunto foi tema dos ataques da oposição durante o fim de semana, com a deputada do Partido Democrático Lia Quartapelle a dizer que “fica à vista a chantagem da Liga sobre o Governo quanto à Ucrânia”. Pela Italia Viva, o deputado Enrico Borghi diz que o texto “está longe de ser uma escolha de estilo”, como diz Salvini, pois “a diferença entre deixar essa frase ou retirá-la é a diferença entre ficar ao lado da posição de Orbán ou das posições da UE, EUA e Reino Unido”.

Piero De Luca, do Partido Democrático, lamentou que o governo já não seja capaz de expressar a mesma linha política “sobre o direito da Ucrânia a defender-se da agressão russa, utilizando armas, também fornecidas pela Itália, para destruir as bases de lançamento de mísseis russos”. E Benedetto Della Vedova do +Europa criticou “a equiparação do uso de armas dadas a Kiev contra alvos na Rússia com a guerra contra Moscovo”, lembrando que “foi compreensivelmente considerada 'ridícula’” pelo Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell.