França

Governo francês caiu, esquerda quer que Macron também vá embora

09 de setembro 2025 - 18:27

Deputados insubmissos, comunistas e ecologistas assinam uma moção de destituição do presidente francês que não é consensual à esquerda. Macron prepara-se para indigitar novo primeiro-ministro da sua área política e a extrema-direita preferia eleições legislativas antecipadas.

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Bayrou dirige-se à tribuna da Assembleia Nacional onde proferiu o último discurso enquanto primeiro-ministro. Foto de YOAN VALAT/EPA.
Bayrou dirige-se à tribuna da Assembleia Nacional onde proferiu o último discurso enquanto primeiro-ministro. Foto de YOAN VALAT/EPA.

O primeiro-ministro francês, François Bayrou, entregou esta terça-feira a sua demissão depois da moção de confiança por si apresentada ter chumbado no dia anterior no parlamento francês por uma margem clara de 194 votos a favor e 364 contra. É a primeira vez na Quinta República, ou seja desde 1958, que um governo cai por causa da apresentação de um voto de confiança e é a quarta vez que um governo cai nos últimos dois anos, colocando o presidente Macron em ainda mais dificuldades.

Bayrou durou nove meses no lugar e preparava-se para acabar com dois feriados nacionais e para avançar com um orçamento de austeridade que não tinha maioria parlamentar para o suportar. Do seu ponto de vista, fá-lo-ia porque o país está ameaçado por um “inexorável pântano de dívidas” face ao qual seria preciso um “compromisso”. Contudo, preferiu avançar para esta votação a negociar a proposta orçamental com a oposição, ao mesmo tempo que desafiava: “podem derrubar o governo, mas não podem apagar a realidade”.

França

Na origem do impasse político, a crise económica

por

Romaric Godin

08 de setembro 2025

Mathilde Panot, deputada da França Insubmissa, retorquiu na Assembleia Nacional que o voto foi uma “derrota severa” que não só afeta o primeiro-ministro agora demissionário mas o próprio Presidente da República, que se devia demitir depois de o plano económico que defende ter ficado amplamente em minoria.

No dia seguinte, anunciou que 86 deputados, do seu grupo mas também dos ecologistas e comunistas, assinaram uma moção de destituição do Presidente da República, à qual espera que outros se associem ainda.

Olivier Faure, líder do Partido Socialista, reagiu à proposta dizendo que não tinha sido informado acerca dela. No dia anterior também o deputado do PS Boris Vallaud tinha apontado baterias ao “presidente derrotado” que responsabiliza por “empobrecer os pobres, enriquecer os ricos e voltar as suas costas ao futuro”, mas a posição sobre a destituição não é a mesma da França Insubmissa. O PS preferiria que Macron indigitasse um primeiro-ministro de esquerda, cenário que parece impossível.

Nos Verdes há as mesmas contradições . Se alguns deputados do partido assinaram a proposta de destituição, a posição oficial é a que o deputado Benjamin Lucas-Lundy comunicou e vai no sentido da nomeação de um governo dos partidos que fizeram a Nova Frente Popular: “a bola está no campo do presidente da República que é o ponto de bloqueio. Ele tem de entender que já não lhe cabe escolher o governo, é precisa uma coabitação verdadeira”.

A líder de facto do partido de extrema-direita União Nacional, Marine Le Pen, defende por seu turno a convocatória imediata de eleições parlamentares que tem esperança de ganhar. Aliás, para já, estaria inabilitada por decisão judicial de concorrer a umas eleições presidenciais caso as houvesse, na sequência de ter sido condenada em março passado por desvio de fundos do Parlamento Europeu através de um esquema de empregos falsos. Está impedida de se candidatar a cargos públicos durante cinco anos, mas recorreu e esse julgamento começará em janeiro.

A queda do governo acontece nas vésperas de um movimento popular auto-convocado que apela a um bloqueio do país na próxima quarta-feira. Alguns dos ativistas que estão a mobilizar para estas ações organizaram na noite desta segunda-feira “festas de despedida” de Bayrou um pouco por tudo o país. Depois deste movimento, haverá uma greve convocada pelas principais centrais sindicais do país.

Já Macron tratou de emitir uma nota em que diz que nomeará um novo primeiro-ministro “nos próximos dias” e remeteu-se depois ao silêncio sobre este assunto.