O professor e autor libanês apresentou, este sábado, um painel na conferência Internacional "Nato para quê?", organizada pela Cultra e pela rede europeia Transform, subordinado ao tema O Imperialismo depois da Guerra Fria.
Segundo defendeu Gilbert Achcar, que desde Agosto de 2007, lecciona as cadeiras de Estudos de Desenvolvimento e Relações Internacionais na Escola de Estudos Orientais e Africanos (School of Oriental and African Studies - SOAS), da Universidade de Londres, o novo modelo imperialista do pós-Guerra Fria é distinto daqueles que eram perspectivados por Lenine e Kautsky.
No seu artigo intitulado "Der Imperialismus", Kautsky advogava que, em resultado da guerra mundial e da consciencialização dos elevados custos que lhe estariam associados, as potências imperialistas seriam levadas a formar algo semelhante a carteis e a abandonar a concorrência na produção de armamentos. Esta seria uma nova fase do imperialismo, a fase da "exploração geral do mundo pelo capital financeiro, unido internacionalmente", a que Kautsky apelidou de ultra-imperialismo.
Esta teoria seria, contudo, criticada por Lenine. Na sua obra O imperialismo, etapa superior do capitalismo, Lenine denunciava a ingenuidade da teoria de Kautsky, que não contemplava as disparidades entre potências e pressupunha a existência de carteis igualitários. Lenine contrapôs com a continuidade das guerras inter-imperialistas.
Gilbert Achcar esclareceu que o que se instala, de facto, no pós-Guerra Fria é um modelo hierarquizado de potências imperialistas, no qual se impõe um poder dominante àqueles que são encarados como poderes menores.
Existe uma potência soberana - os Estados Unidos da América (EUA), que subordina todos os seus "vassalos".
Gilbert Achcar denomina esta nova fase de "momento unipolar", caracterizado pela tentativa de "renovação da fidelidade dos vassalos", através das relações no âmbito da NATO e da concretização do tratado de segurança EUA-Japão, de expansão do império dos EUA ao resto do mundo e de cerco aos potenciais adversários: Russia e China.
Neste contexto, a NATO, conforme explicita o orador, assume um carácter intervencionista e apresenta-se como uma agência securitária, que visa assegurar os interesses estratégicos dos EUA.
Gilbert Achcar enunciou alguns momentos decisivos naquela que considera a escalada da globalização imperialista: crise do Golfo e Guerra, expansão da NATO na era Clinton, a "guerra contra o terror" de Bush - Ásia Central e petróleo do Golfo.
Durante a sua intervenção, o orador expôs ainda alguns dos indicadores que permitem entender a dimensão do esforço militar dos EUA: a concentração de bases militares em zonas estratégicas internacionais, a taxa do orçamento vocacionado para a actividade militar face ao PIB do país (equivalente a 4,3%, contra os 1,6% da União Europeia) e a dimensão das despesas militares dos EUA, que se equiparam às despesas totais de todos os outros países. Gilbert Achcar relembra que, não obstante a extensão destes investimentos, são outros países a sustentar o estado e a economia dos EUA.
A terminar a sua intervenção, Achcar defendeu o "pacifismo anti-imperialista genuíno como alternativa", com base na dissolução das alianças militares, na desnuclearização, no desarmamento e no primado daquelas que são as leis internacionais mais progressistas.