Fraude na Altice: arguidos tiveram duas semanas para preparar buscas

26 de julho 2023 - 12:21

O braço direito de Armando Pereira foi avisado no final de junho que a Autoridade Tributária o ia fiscalizar. O seu contabilista viajou à Madeira e Luxemburgo para esconder documentos comprometedores.

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Armando Pereira, acionista da Altice.
Armando Pereira, acionista da Altice. Foto António Pedro Santos/Lusa

O empresário Hernâni Vaz Antunes, considerado o braço direito de Armando Pereira e implicado em inúmeros negócios que segundo o Ministério Público terão lesado a Altice e o Estado português, recebeu no final de junho a informação de que iria ser alvo de uma operação de fiscalização da Autoridade Tributária de Braga. Segundo o Expresso, terá depois avisado Armando Pereira e o contabilista Álvaro Gil Loureiro, ambos arguidos no processo de fraude na empresa de telecomunicações.

Nas inquirições do juiz de instrução Carlos Alexandre, que acabou por mandar Armando Pereira e Hernâni Vaz Antunes para as suas mansões para ficarem em regime de prisão domiciliária sem pulseira eletrónica e pôs os restantes arguidos em liberdade com pagamento de cauções, o contabilista assumiu uma postura mais colaborativa, contando como após receber o alerta de Vaz Antunes viajou para o Luxemburgo e depois para a Madeira com o objetivo de fazer desaparecer documentos comprometedores.

Álvaro Gil Loureiro acabou por indicar ao juiz o local onde escondeu mais de uma centena de pastas com documentos e forneceu as senhas de acesso aos equipamentos eletrónicos apreendidos.

Ainda segundo o Expresso, o aviso prévio das buscas justifica a ausência de surpresa dos arguidos ao verem chegar os agentes às suas residências no dia 12 de julho e o desaparecimento de Vaz Antunes, que acabou por se entregar numa esquadra do Porto dias depois. A investigação suspeita que o empresário de Braga tenha assim permitido a fuga de dois alegados cúmplices estrangeiros. Durante a inquirição, Vaz Antunes terá confessado alguns dos crimes de corrupção que lhe são imputados e noutros considerou tratar-se de uma questão "meramente fiscal" que podia resolver com a restituição de verbas à Altice.

Para além da zona franca da Madeira e do Luxemburgo, a maior parte dos lucros dos negócios dos empresários com a Altice circularam por contas bancárias e empresas offshore nos Emirados Árabes Unidos. O Expresso adianta que o esquema de sobrefaturação apresenta semelhanças com o que foi utilizado por Isabel dos Santos em relação à Sonangol naquele país. E até têm em comum o recurso à mesma empresa de consultores portugueses no Dubai, a Tagus Consulting, que criou empresas offshore para Isabel dos Santos e terá ajudado, segundo o Ministério Público, a emitir faturas para justificar transferências de dinheiro das empresas de Vaz Antunes para as de Armando Pereira.