Países Baixos

Parlamento neerlandês também quer designar "antifa" como organização terrorista

23 de setembro 2025 - 10:16

Vários movimentos sociais respondem que é uma manobra de distração face ao colapso do primeiro governo a incluir a extrema-direita no país e reafirmam: "somos todos antifascistas".

PARTILHAR
Debate parlamentar sobre a demissão do governo neerlandês em junho passado.
Debate parlamentar sobre a demissão do governo neerlandês em junho passado.

Depois do presidente dos Esatdos Unidos da América ter publicado uma mensagem na qual explicava que o seu governo passaria a considerar o movimento "antifa" como uma "organização terrorista", a tentativa de criminalização do antifascismo chegou à Europa.

A 18 de setembro, o parlamento neerlandês aprovou uma moção, com 76 votos a favor num total de 150, em que se pede ao atual governo que faça exatamente o mesmo. No texto, começa-se por fazer referência direta à decisão nos EUA para depois se afirmar que há nos Países Baixos células antifa que estão ativas e "ameaçam políticos, interrompem reuniões, intimidam estudantes e jornalistas e não hesitam em usar violência".

A moção foi apresentada pelo FvD (Fórum para a Democracia, um partido populista de extrema-direita fundado em 2016 por Thierry Baudet) e pelo PVV (Partido para a Liberdade, o partido anti-imigração liderado por Geert Wilders). Foi apoiada por outros partidos de extrema-direita direita e de direita como o JA21, Resposta Correta 21, um partido conservador de direita), o BBB (Movimento Agricultor-Cidadão, um partido populista agrário) e o SGP (Partido Político Reformado, um partido protestante conservador).

Somos todos antifascistas

Um conjunto de organizações da sociedade civil decidiu responder a esta votação através de uma declaração pública em que se afirma: "somos todos antifascistas". Aí se explica que "antifa é um termo coletivo para pessoas e redes que resistem à extrema-direita e à normalização das suas ideias tóxicas".

Esta declaração foi uma iniciativa da Plataforma Stop Racism & Fascism (Acabar com o Racismo e o Fascismo) e é apoiada, entre muitos outros, pela DeGoedeZaak (A Boa Causa, uma organização antirracista holandesa), o Extinction Rebellion, o De*Beweging (O*Movimento, um movimento político progressista holandês) e o Here to Support.

Estes grupos acreditam que se trata de "uma tentativa de desviar a atenção da sua própria crise e da experiência lamentavelmente fracassada do governo", o primeiro na história contemporânea do país a incluir a extrema-direita, e que dizem estar "em colapso". Para além do PVV, o executivo agora em gestão inclui também o VVD (Partido Popular para a Liberdade e Democracia, o principal partido liberal conservador que também apoiou esta moção).

Esta constelação de organizações sublinha que é "extremamente preocupante que tenhamos agora uma maioria parlamentar que vê este comportamento autoritário como um exemplo", uma referência à ofensiva lançada por Trump, após o assassinato do ativista de extrema-direita Charlie Kirk. Para eles, "este assassinato brutal faz parte de um padrão de violência política crescente nos Estados Unidos. Violência que tem como alvo, entre outros, afro-americanos, a comunidade judaica e democratas". E o presidente dos EUA "está a tentar conquistar ainda mais poder fingindo que a esquerda e os democratas estão por trás dessa violência" enquanto, "nas últimas décadas, a violência mortal nos Estados Unidos veio principalmente da extrema-direita". O objetivo, consideram, é "desencadear uma caça às bruxas com a qual os dissidentes são silenciados e são lançadas as bases para ainda mais terror da extrema-direita no futuro”.

Mas, para além da manobra de diversão e da inspiração do outro lado do Atlântico, a votação, julgam, é também resultado de "nas últimas décadas, o racismo impulsionado pela extrema-direita contra, por exemplo, muçulmanos e pessoas que procuram refúgio ter sido cada vez mais normalizado".