A "operação Picoas" tem novos desenvolvimentos a seguir às buscas e detenções por suspeita de “corrupção no setor privado, fraude fiscal agravada, falsificação e branqueamento”, de “viciação do processo decisório do grupo Altice, em sede de contratação, com práticas lesivas das próprias empresas daquele grupo e da concorrência” e de “aproveitamento abusivo da taxação reduzida aplicada em sede de IRC na Zona Franca da Madeira”.
As primeiras notícias começaram por visar a venda de quatro prédios da Altice em Lisboa, no montante de perto de 15 milhões de euros, vendidos a preços baixos e revendidos pouco depois com mais-valias de milhões de euros.
Falava-se então já da criação de várias sociedades fantasma que serviriam para desviar dinheiro da Altice. Mas esta terça-feira há vários meios de comunicação que avançam detalhes sobre mais negócios em investigação.
O Expresso dá conta que Hernâni Vaz Antunes, sócio e amigo pessoal de Armando Pereira, o fundador da Altice, é suspeito de ter lucrado ilegalmente com negócios entre a Altice, a Huawei e a Xiaomi. Uma empresa deste, a Edge Technology, fazia o papel de intermediária, arrecadando Antunes e Armando Pereira os benefícios.
Já de acordo com o Jornal de Notícias, Ministério Público e Autoridade Tributária suspeitam que Jéssica Antunes, filha de Hernâni, instruída pelo seu pai, terá desviado milhões de euros provenientes da venda de direitos televisivos de contratos entre a Altice e vários clubes de futebol.
O empresário Bruno Macedo terá sido cúmplice da operação e também Armando Pereira ganharia com ela. Avança-se com o valor de cinco milhões de euros ganhos desta forma só em dois anos, 2016 e 2017, valor que terá sido espalhado por contas de várias empresas criadas por pessoas próximas aos empresários.
Aquele diário diz que o Ministério Público acredita que Hernâni Antunes exigia comissões ilícitas a várias empresas para que Armando Pereira influenciasse a sua contratação pela Altice ou eles próprios criavam empresas de prestação de serviços para fazerem contratos com a multinacional.
Indica-se o exemplo de um contrato “fictício” de consultadoria, feito com a empresa BM Consulting de Bruno Macedo com a empresa Jana Trading, controlada por Hernâni Antunes e Armando Pereira, o dinheiro terá depois acabado numa conta de um banco dos Emirados Árabes Unidos, Mashreq Bank, pertencente a Jéssica Antunes.
Uma outra empresa de “consultadoria”, chamada PESARP, terá também encaixado dez milhões de euros por “apoio nas negociações com os clubes”.
Ainda sobre negócios próximos do mundo do futebol, o Correio da Manhã noticia que, segundo o Ministério Público, a Sabseg, uma corretora de seguros patrocinadora da Liga de Clubes, terá passado faturas falsas à Maratona Vanguarda, de Antunes, de forma a poder continuar a ser fornecedora da Altice. Entre 2017 e 2022, esta faturação terá atingido o valor de 8,1 milhões de euros. A Guardian Calculus, igualmente controlada por aquele, também faria este papel.
Os esquemas destes dois empresários, ficou-se também a saber esta terça-feira, chegaram ainda aos Estados Unidos. O genro de Armando, Yossi Benchetrit, era aí responsável pela Excell Communications, fornecedora de fibra ótica da Altice USA, ao mesmo tempo que na multinacional era “chief procurement” e “programming officer”, tendo assim forte poder na determinação de contratos e aplicaria o mesmo tipo de operações para desviar dinheiro da Altice, escreve o Público.
Jéssica Antunes e o pai teriam participação oculta na Excell Communications através de vários testa-de-ferro.
O Ministério Público suspeita que o dinheiro feito em Portugal e nos EUA circulava ainda entre várias empresas como a Sanjy International Comercial Broker and Consultant LLC e a CBIC Business Intermediary & Management Consultancy FZE, também sob controlo dos empresários.
SINTTAV quer nacionalização da Altice
Para esclarecer a situação da empresa, Ana Figueiredo, CEO da Altice, reuniu na passada quinta-feira com sindicatos e comissão de trabalhadores.
Esta terça-feira, o Dinheiro Vivo dá conta que o coordenador da comissão de trabalhadores, Jorge Pinto, comunicou que “a mensagem que nos foi passada, e que vamos transmitir aos trabalhadores, foi de tranquilidade”.
Por sua vez, Jorge Félix, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Grupo Altice em Portugal, declarou que os trabalhadores da Altice estão “extremamente preocupados” e que Ana Figueiredo terá garantido que “não haverá alterações estruturais na empresa”.
Por outro lado, Manuel Gonçalves, presidente do Sindicato das Telecomunicações e Audiovisual, também indicou que a CEO “pediu calma” e que “disse que a empresa vai continuar os projetos e que uma auditoria foi pedida, mas não disse a quem. Nem disse quando haverá resultados disso. Não trouxe nada de novo face ao que já se sabia”, numa reunião que durou cerca de meia hora.
Sobre a situação da empresa acrescentou: “a nossa posição é muito clara, vamos emitir um comunicado esta semana a exigir ao Governo que nacionalize o que resta da PT”.