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A formação de uma classe operária mundial

A entrada no mercado mundial da China, da Índia e do antigo bloco soviético conduziu a uma duplicação da força de trabalho que está em concorrência no mercado mundial. Por Michel Husson.
Operárias da Foxxconn, numa fábrica em Shenzhen - China

Durante os anos 1990, deu-se um fenómeno decisivo com a entrada no mercado mundial da China, da Índia e do antigo bloco soviético, o que conduziu a uma duplicação da força de trabalho que está em concorrência no mercado mundial1.

Os dados da OIT2 permitem uma estimativa do emprego assalariado à escala mundial. Nos países “avançados”, ele progrediu cerca de 20% entre 1992 e 2008, depois estagna desde a entrada em crise. Nos países “emergentes”, aumentou quase 80% no mesmo período.

Gráfico1: O emprego assalariado mundial

 

No emprego na indústria, regista-se um resultado semelhante, mas ainda mais marcante: entre 1980 e 2005, a mão-de-obra industrial aumentou 120% nos países “emergentes”, mas baixou 19% nos países “avançados”3.

A mesma constatação sobressai de um estudo recente do FMI4 que calcula a força de trabalho nos setores exportadores de cada país. Obtém-se uma estimativa da força de trabalho mundializada, que está diretamente integrada nas cadeias de valor globais. A discrepância é ainda mais marcante: entre 1990 e 2010, a força de trabalho global assim calculada aumentou de 190% nos países “emergentes”, contra 46% nos países “avançados”

Gráfico 2: A força de trabalho mundializada

 

A mundialização conduz tendencialmente à formação de um mercado mundial e também à de uma classe operária mundial, cujo crescimento se faz no essencial nos países dito emergentes. Este processo é acompanhado de uma tendência para que a força de trabalho seja assalariada. A taxa do emprego assalariado (a proporção de assalariados no emprego) aumenta de forma contínua, passando de 33% para 42% no decurso dos últimos vinte anos. Verifica-se igualmente que esta tendência é mais marcante nas mulheres.

Gráfico 3: Taxa do emprego assalariado nos países “emergentes”

 

A dinâmica do emprego no mundo é ilustrada pelo gráfico 4 e pode resumir-se assim: quase estabilidade ou fraca progressão do emprego nos países “avançados”, aumento somente nos países “emergentes”: +40% entre 1992 e 2002, com aumento do emprego assalariado (salariado: +76%, outros empregos: +23%).

Gráfico 4: Repartição da força de trabalho mundial

 

Para o ano de 2012, os dados da OIT conduzem à seguinte repartição do emprego mundial em milhares de milhões:

Emprego nos países “avançados” 0,47

Empregos assalariados nos países “emergentes” 1,11

Outros empregos nos países “emergentes” 1,55

Emprego mundial 3,13

Esta classe operária mundial é extraordinariamente segmentada, devido às consideráveis diferenças salariais. Mas a mobilidade desta classe operária é limitada ao passo que os capitais obtiveram uma liberdade de circulação quase total. Nestas condições, a mundialização tem como efeito colocar potencialmente em concorrência os trabalhadores de todos os países. Essa pressão concorrencial exerce-se tanto sobre os assalariados dos países “avançados” como sobre os dos países “emergentes” e traduz-se por uma baixa tendencial da parte dos salários no rendimento mundial.

Gráfico 5: Parte dos salários no rendimento mundial 1970-2010

 

Em % do PIB. Cálculos de Michel Husson a partir de Stockhammer, 20135.

Média dos seguintes países: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, Suécia.

Argentina, Brasil, Chile, China, Costa Rica, Quénia, México, Namíbia, Omã, Panamá, Peru, Rússia, África do Sul, Coreia do Sul, Tailândia, Turquia.

 

Nota de Michel Hussondisponível no seu site hussonet.free.fr. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net


1 Richard Freeman, “China, India and the Doubling of the Global Labor Force: Who Pays the price of Globalization?”, The Globalist, Juin 2005.

2 ILO, Key Indicators of the Labour Market (KILM)

3 John Smith, “Imperialism and the Law of Value”, Global Discourse [Online], 2: I, 2011.

4 FMI, Jobs and growth: analytical and operational considerations for the Fund, Mars 2013.

5 Engelbert Stockhammer, “Why have wage shares fallen?”, ILO, Conditions of Work and Employment Series No. 35, 2013.

Sobre o/a autor(a)

Economista francês. Investigador no IRES (Instituto de Investigações Económicas e Sociais)
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