Depois de ter criado uma zona tampão completamente militarizada na zona de fronteira com a Bielorrússia, o governo polaco passou a autorizar que as forças armadas do país disparem contra os migrantes que passem a fronteira sem serem responsáveis em termos penais.
A RFI noticia que desde sexta-feira que os deputados polacos estenderam as prerrogativas das forças armadas para que possam “atirar de forma preventiva e com balas reais contra quem quer que tente violar a fronteira”.
A cadeia noticiosa francesa dá ainda nota das preocupações que isto levanta nas organizações humanitárias. Kasia Mazurkiewicz, que trabalha numa associação de ajuda a migrantes, afirma que “vendo alguém numa floresta não se está em condições de dizer se representa uma ameaça ou se se trata de uma pessoa a fugir de um país em guerra e que procura apenas sobreviver”. E acrescenta: “é preciso tratá-los como seres humanos, não se dispara sobre humanos”.
A decisão coloca também em perigo os próprios ativistas que trabalham nas zonas de floresta ao longo da fronteira e passam a temer pela sua vida: “temos medo de sermos alvejados enquanto ajudamos outras pessoas. A partir de agora, vamos pensar duas vezes antes de ir salvar alguém porque sabemos que arriscamos ficar ali mesmo”.
Tensão Polónia-Bielorrússia ao rubro por causa da migração
A tensão na fronteira entre Polónia e Bielorrússia começou em 2021. Neste verão assiste-se a uma nova escalada. 18.000 pessoas terão tentado entrar na Polónia a partir daquele país desde o início do ano no que se diz ser uma estratégia deliberada de desestabilização.
O governo da Bielorrússia, aliado de Putin, é acusado ter aberto agências de viagem no Médio Oriente para trazer migrantes e impeli-los a passar a fronteira que os fará entrar na União Europeia.
Há uma semana, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Wieslaw Kukula, citado pela Reuters, dizia que a Polónia precisa de preparar os seus soldados para um “conflito em grande escala e não para um conflito de tipo assimétrico”.
Na mesma ocasião, o secretário de Estado da Defesa, Pawel Bejda, informava que nas fronteiras leste do país passariam a estar destacados 8.000 soldados com mais 9.000 disponíveis para intervir na zona em 48 horas. A Polónia já fechou quatro dos seis postos fronteiriços e ameaça encerrar todos. Anuncia ainda que quer aumentar os efetivos das forças armadas de 190.000 para 300.000 nos próximo anos.
Cezary Tomczyk, também ele secretário de Estado no mesmo Ministério avisa que “estamos preparados para qualquer solução nesta área porque não vamos permitir que esta crise migratória causada pela Bielorrússia dure indefinidamente”:
Zona da morte, dizem associações humanitárias
O Conselho Norueguês para os Refugiados em comunicado apelou a que haja uma “ação urgente” para ajudar “os refugiados presos na zona da morte da Europa”.
Esta organização humanitária é outra das que tem vindo a acusar o Governo polaco de “impedir assistência humanitária a refugiados que procuram proteção internacional”. Para eles, a zona de exclusão criada, sem acesso aos voluntários que prestam ajuda humanitária é “uma receita para o desastre” que “afeta os mais fracos e vulneráveis refugiados”.
Desde 2021, de acordo com Neil Brighton, diretor do CNR na Polónia, já receberam “perto de 20.000 pedidos de assistência, houve 82 mortes e tiveram conhecimentos de perto de 9.000 expulsões violentas que não respeitam o direito humanitários, os chamados puhsbacks.
A chamada “zona da morte” é a região entre os dois países caracterizada por “temperaturas extremas, florestas densas e pântanos”.