Pedro Costa, presidente do Sindicato dos Enfermeiros (SE), explicou ao jornal Público que “a administração do Amadora-Sintra tem cerca de 100 vagas para preencher na área de enfermagem, em algumas situações há mais de dois anos, e não as conseguem preencher”.
“Os enfermeiros até se podem candidatar, mas depois não querem trabalhar num serviço em que a falta de condições de trabalho é por demais conhecida”, afirmou o dirigente em comunicado. De acordo com Pedro Costa “há serviços onde os turnos são assegurados apenas por três enfermeiros para 32 doentes” e a limitação de recursos humanos traduz-se na exaustão dos profissionais e num maior risco de erro.
“Os hospitais estão depauperados de recursos humanos. Temos hospitais que só conseguem recrutar após quatro ou cinco semanas de tentativas. Na generalidade, poucos são os que conseguem recrutar sem dificuldades. Os profissionais estão cansados e isso repercute-se na avaliação que fazem da oferta”, descreveu o presidente do SE. “Se valorizarem os profissionais, eles mantêm-se no SNS”, assinalou.
Gorete Pimentel, presidente do Siteu, acrescentou que “muitos profissionais saíram para o privado e temos muitos enfermeiros a deixar a profissão”, sendo que “na zona Sul é muito difícil contratar e fixar” devido ao elevado custo de vida. Acresce que “a falta de reconhecimento” político e da sociedade relativamente ao papel dos enfermeiros tem levado “a grande desmotivação” dos profissionais.
No Hospital de Loures, por exemplo, “não conseguem fazer contratação de pessoal. O concurso é para 40 horas semanais com o valor base que é dado para as 35 horas semanais”.
A dificuldade de contratação tem raiz na “falta de expetativas de desenvolvimento da carreira e dos salários”, assumiu Guadalupe Simões, dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP). Segundo a dirigente sindical, entre junho e julho saem formados das escolas de enfermagem cerca de 3500 profissionais. “As ARS do Algarve, de Lisboa e Vale do Tejo e do Alentejo são as que têm o número mais baixo de enfermeiros por mil habitantes. Mas não se vê empenho para contratarem de forma definitiva ou pelo menos de forma temporária para fazer face ao acréscimo de trabalho”, vincou. Guadalupe Simões destacou ainda que muitos dos enfermeiros nos centros de vacinação foram deslocados dos centros de saúde e que, “mais uma vez, haverá atividade assistencial que deixará de ser feita.”
O SEP reivindica a passagem para o horário das 35 horas semanais, contratação urgente de mais enfermeiros e o pagamento de todas as horas extraordinárias, bem como que as Administrações Regionais de Saúde (ARS) contratem mais profissionais para o processo de vacinação que está a decorrer.