A porta-voz do governo dos Estados Unidos, Karoline Leavitt, ameaçou nesta terça-feira (9 de setembro) usar o poder militar e económico norte-americano contra o Brasil, a propósito do julgamento que poderá condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentar dar um golpe de Estado que o mantivesse no poder, apesar de ter perdido as eleições de 2022 para o presidente Lula da Silva.
Respondendo a uma pergunta sobre a provável condenação de Bolsonaro, a porta-voz assegurou que “proteger a liberdade de expressão” é uma prioridade do governo Trump, recordando que a Casa Branca já tomou “ações significativas com relação ao Brasil, em forma tanto de sanções quanto de tarifas, para garantir que países ao redor do mundo não estejam punindo os seus cidadãos”.
Escalada dos EUA sobre o Brasil
A nova ameaça significa uma escalada por parte da Casa Branca. É a primeira vez que o governo Trump invoca o uso da força militar para impedir a condenação de Jair Bolsonaro.
Em resposta, ainda na noite de terça, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil publicou uma nota em que “condena o uso de sanções económicas ou ameaças de uso da força contra a nossa democracia”.
“O primeiro passo para proteger a liberdade de expressão é justamente defender a democracia e respeitar a vontade popular expressa nas urnas. É esse o dever dos três Poderes da República, que não se intimidarão por qualquer forma de atentado à nossa soberania”, disse o Ministério, condenando igualmente a mobilização feita por “forças antidemocráticas” no Brasil no sentido de “instrumentalizar governos estrangeiros para coagir as instituições nacionais”.
O Ministério referia-se ao lóbi instalado nos Estados Unidos pelo deputado Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, a favor da amnistia ao pai e de que a Casa Branca pressione o Brasil através de sanções, o que tem vindo a acontecer.
Brasil é um país soberano, diz Lula da Silva
As pressões começaram no início de julho passado, quando Trump publicou um post defendendo Bolsonaro e acusando o Brasil de estar a agir “de forma terrível” no tratamento dado ao ex-presidente. “Eu observei, assim como o mundo, como eles não fizeram nada além de persegui-lo”, escreveu Trump no dia 7 de julho, assegurando que Bolsonaro “não é culpado de nada, exceto de ter lutado pelo povo”.
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Na altura, o presidente Lula da Silva reagiu, sem citar Trump, afirmando que o Brasil não aceita “interferência ou tutela de quem quer que seja”.
“A defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros. Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja”, disse Lula, assegurando que ninguém está acima da lei. “Sobretudo, os que atentam contra a liberdade e o estado de direito”, acrescentou.
Recordemos que os EUA impuseram tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras para os EUA (com algumas exceções), Trump ainda sancionou os juízes do Supremo Tribunal com medidas que os afetam diretamente, como o cancelamento dos seus vistos de entrada nos EUA e o congelamento dos seus bens e contas bancárias em solo ou instituições norte-americanas.
Bandeira dos Estados Unidos da América foi estrela dos Bolsonaristas
A aliança Bolsonaro-Trump ficou bem evidente quando foram anunciadas as primeiras sanções do governo dos EUA sobre o Brasil, comemoradas com euforia pelos Bolsonaro, apesar do prejuízo que causavam ao seu próprio país. Entre a sua pátria e a ingerência da maior potência do mundo, eles ficaram com a segunda, sem hesitações.
A aliança Trump-Bolsonaro ficou escancarada no último dia 7 de setembro. Na concentração dos bolsonaristas, na avenida Paulista, a grande estrela foi uma gigantesca bandeira dos Estados Unidos, levada pelos manifestantes. Recordemos: 7 de setembro é o dia da independência do Brasil. Nessa data, em anos anteriores, os bolsonaristas saíam às ruas embrulhados em bandeiras do Brasil e envergando o uniforme da seleção brasileira. Afirmavam-se os grandes patriotas, para quem o Brasil estava acima de tudo. Hoje assumem a bandeira dos EUA quando o Brasil é alvo de ataques e ameaças económicas e militares daquele país. O patriotismo ficou esquecido no guarda-roupas.
Tudo indica que o ex-presidente Jair Bolsonaro será condenado por ter liderado uma tentativa de golpe de Estado para se manter no poder apesar de derrotado nas urnas.