Estudo revela problemas de saúde acrescidos de vítimas de violência doméstica

17 de fevereiro 2023 - 18:00

Os especialistas da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto analisaram os registos clínicos de mulheres identificadas como vítimas ou prováveis vítimas de violência doméstica de uma unidade de saúde local e detalharam os riscos de saúde detetados.

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Violência doméstica. Foto de Paulete Matos.
Violência doméstica. Foto de Paulete Matos.

Foi divulgado esta sexta-feira um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health, que conclui que as mulheres que foram vítimas de violência doméstica têm mais problemas de saúde e mais comportamentos de risco.

Estas conclusões foram retiradas a partir da análise de registos clínicos de 1.676 mulheres, entre os 16 e os 60 anos de idade, utentes da Unidade de Saúde Local de Matosinhos, produzidos entre 2001 e 2021. Estas tinham sido identificadas pelos médicos como vítimas ou prováveis vítimas de violência física, emocional, psicológica e/ou sexual por parte de um parceiro íntimo atual ou ex-parceiro.

No estudo, foram encontrados “muito mais comportamentos de risco para a saúde do que a população em geral”, “mais problemas de saúde mental e de saúde física”, e “mais história de traumatismo e intoxicações”, explicou Teresa Magalhães, professora de Medicina Legal e Ciências Forenses da FMUP, à Lusa.

Estas mulheres são mais afetadas por problemas como enfarte agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e cancro. Escreve-se que o stresse traumático associado às experiências violentas pode causar distúrbios, nomeadamente no sistema nervoso, imunológico e endócrino.

A partir do material recolhido, estima-se que as mulheres que sofrem de violência doméstica têm um risco 3,6 vezes superior de terem problemas de sono, 2,4 mais alto de sofrerem de dor crónica inespecífica, uma probabilidade 1,7 vezes maior de consumirem ansiolíticos e outros medicamentos no âmbito da saúde mental.

Números ainda mais elevados registam-se noutros dois itens: o consumo de álcool, tabaco e outras substâncias aditivas (com um risco até 13 vezes maior) e a ideação suicida (com um risco 8,6 vezes).

As razões da baixa percentagem de vítimas analisadas no estudo

Os autores da investigação não deixam escapar que estas 1.676 mulheres cujos casos foram analisados são apenas uma amostra de 2,3% num universo de mais de 72 mil mulheres que foram atendidas nesta unidade de saúde. Por isso pensam que “estes resultados parecem indicar uma taxa de deteção da violência muito baixa por parte dos médicos, uma vez que se estima que a prevalência de mulheres vítimas deste tipo de violência seja de 18% em Portugal e 27% em todo o mundo”.

De acordo com Teresa Magalhães isto quer dizer que “os médicos podem ter percebido [que havia violência doméstica], mas nós não acedemos ao que está nas informações confidenciais. E escrever nas informações confidenciais de pouco ou nada serve nestes casos que são crime público. Estas pessoas têm de ser encaminhadas para profissionais de saúde que saibam intervir para se poder travar esta escalada de danos na saúde à qual as pessoas estão sujeitas”.

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