O primeiro tema do debate televisivo da noite de domingo entre os partidos com assento parlamentar foi o da empresa do primeiro-ministro, que continuou a receber avenças enquanto ocupou o cargo. Para Mariana Mortágua, “Luís Montenegro é vítima apenas das suas escolhas e da falta de noção da responsabilidade do que significa ser primeiro-ministro”. Quanto à forma como geriu toda a situação, o principal efeito, disse a coordenadora bloquista foi “arrastar o país para esta ideia de mediocridade que é a normalização da promiscuidade entre setor público e privado”.
No tema da imigração, dominado pelo anúncio do Governo da deportação de milhares de imigrantes, Mariana Mortágua apontou “duas modas na política à direita: a vitimização e atacar imigrantes”. E acrescentou que a direita recorre a esta última “qualquer que seja o problema”, em vez de debater soluções. “Não aceitamos essa deriva que a extrema-direita conseguiu de arrastar a política do centro”, contrapôs.
“Só há uma forma de saber quem entra no país, é regularizar as pessoas. As pessoas entram porque há trabalho, porque a economia precisa delas”, prosseguiu Mariana Mortágua, responsabilizando os partidos que apoiaram o fim da manifestação de interesses por terem deixado o país sem uma forma de regularizar quem cá está a trabalhar.
Mariana Mortágua falou ainda do “desastre” da instalação da AIMA, que não conseguiu resolver os processos herdados do SEF. E com isso as “principais vítimas são os imigrantes que estão cá há anos e anos à espera de documentos e que estão a pagar a reforma” de centenas de milhares de pensionistas.
Habitação: “PS e direita fizeram pacto da paciência: esperem que se construa”
Sobre a crise da habitação, Mariana Mortágua começou por registar que a medida dos tetos às rendas que o Bloco tem defendido “é a medida mais debatida nesta campanha”. Mas o que também tem marcado as semanas de pré-campanha, argumentou, é “a desistência do PS quanto à habitação, com Pedro Nuno Santos a dizer que se aproxima da AD” e a prometer que irá manter todas as isenções fiscais criadas pelo atual Governo e que contribuíram para a subida do preço das casas no último ano.
“Temos um pacto do PS com toda a direita, o pacto da paciência: esperem que se construa”, resumiu Mariana, lembrando que os governantes e autarcas do país “estão agora a entregar as primeiras chaves das casas que foram prometidas em 2017”.
“PS e PSD uniram-se numa estratégia de dizer às pessoas que não é possível baixar o preço das casas. Eu digo que as pessoas estão a ser enganadas porque é possível. Se é possível na Holanda e na Alemanha, também é possível aqui”, concluiu.
No plano da saúde, depois de ouvir Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos prometerem incentivos aos médicos para conseguirem casa nos centros urbanos, Mariana Mortágua registou que “não deixa de ser irónico que não queiram tetos às rendas mas queiram pagar em géneros aos médicos, com subsídios à habitação”.
Em seguida, criticou a dependência do SNS de prestadores de serviços e tarefeiros “que recebem muito mais que um profissional do quadro” e também das horas extra, o que tudo somado “sai mais caro do que investir em carreiras”. Mariana apontou ainda que o modelo de contratualizações com o privado defendido pela direita “já existe hoje e não está a funcionar”. Para investir em profissionais e condições de trabalho é necessário fazer investimento, mas “para pagar ao privado também é preciso dinheiro”, pelo que “ou queremos um modelo público ou abdicamos desse modelo e damos ao privado o poder de chantagear nos preços”, defendeu a coordenadora bloquista.
A fase final do debate teve também alguns minutos dedicados à situação económica e à defesa, setor onde Mariana diz que “a grande solução que têm [à direita] é pôr os nossos militares às ordens de um general de Trump, que é aliado de Putin”.
Seguiram-se críticas a um modelo económico “de baixos salários, turistificação em massa e bolha imobiliária”, em que os lucros das grandes empresas são conseguidos “à custa de baixos salários”. Em alternativa, Mariana Mortágua propõe um modelo assente na industrialização do país e na aposta na transição climática em vez da atual economia de baixos salários.