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Empresas poluidoras lucraram 50 mil milhões de euros com mercado do carbono

Entre 2008 e 2019, o Comércio Europeu de Licenças de Emissão não apenas permitiu à indústria de uso intensivo de energia não pagar pelo que polui, como também arrecadar lucros especulativos.
Cimenteira Secil no Outão, Setúbal, 2003 – Foto de Tiago Petinga/Lusa.

O relatório da consultora ambiental independente holandesa CE Delft, divulgado pela organização não governamental “Carbon Market Watch”, da qual a Zero faz parte, resulta de uma investigação feita em 18 países da União Europeia (e Reino Unido).

No documento, citado pela agência Lusa, é referido que a maioria dos lucros foi registada na Alemanha. Seguem-se a Itália, França e Espanha. Indústrias do ferro e aço, refinarias, cimento e petroquímica foram as que mais lucraram com o mercado do carbono.

Foram três os esquemas utilizados pelas empresas poluidoras para não pagarem pelo que poluem e ainda arrecadarem lucros adicionais.

A venda de emissões gratuitas em excesso garantiu-lhes lucro no mercado. No setor do cimento, esse mecanismo rendeu 3,1 mil milhões de euros e no setor petroquímico 600 milhões de euros.

Por outro lado, as empresas compraram compensações internacionais mais baratas para abater nas suas emissões e venderam licenças que lhes foram atribuídas gratuitamente com lucro no mercado. No setor do aço, este esquema rendeu 850 milhões de euros e nas refinarias 630 milhões.

Por fim, a indústria de uso intensivo de energia passou os custos das licenças de emissão, obtidas gratuitamente, para o preço dos produtos pago pelos consumidores. No setor de ferro e aço esse valor foi de 12 a 16 mil milhões de euros e no das refinarias 7 a 12 mil milhões de euros.

Em Portugal, que, por unidade de PIB, é o terceiro país com mais lucros, o total de lucros especulativos fixou-se nos 975 mil milhões de euros. A maior parte desse dinheiro, 731 milhões de euros, foi obtido passando os custos implícitos para o consumidor. Com a venda das licenças que recebeu gratuitamente, o país arrecadou 188 milhões de euros.

De acordo com o relatório, as empresas que mais lucraram recorrendo a estes mecanismos são a Cimpor (315 milhões de euros), a Petrogal (236 milhões de euros) e a Secil (102 milhões de euros).

A “Carbon Market Watch” e a Zero denunciam a existência de uma “falha no mercado no cerne de uma das principais políticas climáticas da Europa, que tem de ser corrigida” e defendem que a União Europeia deve optar por leiloar as licenças gratuitas para poluir, investindo as receitas em ação climática.

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