O livro "Diamantes de Sangue" resulta da investigação de Rafael Marques sobre os abusos das empresas de extração de diamantes, que começou em 2004 na região angolana das Lundas, em particular nas localidades do Cuango e Xé-Muteba. O jornalista constatou que a Sociedade Mineira do Cubango, através da empresa de segurança Teleservice, foi responsável por "atos quotidianos de tortura e, com frequência, de homicídio" contra as populações e os garimpeiros da região. Entre os sócios daquela empresa estão nove generais angolanos, entre os quais três antigos chefes do Estado-Maior General das Forças Armadas e o Chefe da Casa Militar da Presidência e Ministro de Estado, General "Kopelipa".
A queixa-crime foi entregue em novembro de 2011 por Rafael Marques na Procuradoria-Geral da República de Angola. A investigação da justiça angolana ainda ouviu quatro das dez testemunhas indicadas pelo autor da queixa como vítimas e testemunhas dos abusos e torturas, mas em junho foi determinado o seu arquivamento, considerando que a queixa-crime "não tem qualquer fundamento" e que se trata de uma "construção teórica sem qualquer suporte factual e jurídico-legal".
Segundo o processo de inquérito consultado pela agência Lusa, a PGR angolana concluiu que há "nenhuma conexão entre a actuação das sociedades e/ou das FAA e os alegados casos de homicídios, torturas, violações e extorsões denunciados", conclui a PGR angolana. "Também não ficou provado que as FAA ou a polícia nacional tivessem dado quaisquer ordens aos seus efectivos para realizarem os alegados actos de violência (...) contra os garimpeiros e/ou populações civis e indefesas", acrescenta.
Apesar da notificação do arquivamento ter data de 22 de junho deste ano, Rafael Marques só foi notificado da decisão a 21 de novembro, quando o prazo para recorrer ao Supremo Tribunal já tinha sido ultrapassado. O jornalista só ficou a conhecer o desfecho da investigação em Angola após ser ouvido como arguido no processo que os nove generais lhe moveram em Portugal, acusando-o de "difamação, injúrias e ofensa a pessoa colectiva".
O processo dos generais contra Rafael Marques tem por objetivo retirar de circulação o livro "Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola", tendo sido igualmente constituída arguida a editora Bárbara Bulhosa, da Tinta da China, que publicou o livro em Portugal.