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Depois de Glasgow, Biden dá luz verde a concessões recorde de petróleo e gás

Os ambientalistas falam em hipocrisia e em perigo e algumas associações processaram o governo por falta de avaliação do impacto ambiental.
Prospeção de petróleo offshore no Golfo do México. 2019. Foto de Tony Webster/Flickr.
Prospeção de petróleo offshore no Golfo do México. 2019. Foto de Tony Webster/Flickr.

Em Glasgow, na COP, Joe Biden afirmava solenemente que os EUA iriam “lideram pelo exemplo” face à crise climática. Nem uma semana passou e o seu governo lançou já aquele que é considerado o maior leilão de licenças de concessões para a exploração de petróleo e gás no Golfo do México.

O presidente norte-americano chegou a prometer, durante a campanha das primárias no Partido Democrata que o levaria à nomeação como candidato presidencial, que acabaria com concessões de exploração de energias fósseis em terrenos públicos federais e no mar e com os subsídios a estas empresas. Depois, até parou a emissão de licenças neste tipo de localizações para análise de processos. Agora, os mais de 300 mil quilómetros quadrados, uma área do dobro do tamanho do estado da Florida, que serão abrangidos ficam como um gigantesco desmentido da capacidade de cumprir estas promessas.

O Departamento do Interior estima que poderão ser extraídos 1,12 mil milhões de barris de petróleo e cerca de 4,2 biliões de pés cúbicos de gás. A estes junta-se outro leilão na Enseada de Cook no Alaska onde poderão vir a ser extraído 192 milhões de barris de petróleo e cerca 8,5 mil milhões de metros cúbicos de gás. Somados, diz o Guardian, produziriam 600 milhões de toneladas de gás com efeito de estufa durante as próximas quatro décadas, um número que excede as emissões anuais atuais do Reino Unido.

O jornal britânico falou com ambientalistas e até dirigentes do partido do presidente que são críticos da decisão. É o caso de Raul Grijalva, que preside ao comité de Recursos Naturais da Câmara dos Representantes que declarou que a decisão “é um passo na direção errada e a administração precisa de fazer melhor”.

Kristen Monsell, do Centro de Diversidade Biológica, vai mais longe acrescentando que é “incompreensível” tomar uma decisão destas depois da cimeira climática e que “é difícil imaginar uma coisa mais hipócrita e perigosa” para ser feita.

Para além das palavras duras, há quem siga para a justiça. O grupo ecologista Earthjustice foi um dos vários que processou o estado norte-americano por avançar sem uma avaliação ambiental.

E é do campo legal que vem também a desculpa oficial para avançar com o leilão. Em junho, um juiz federal do Luisiana deu razão a um dos processos colocados por dezenas de estados que seguiram a argumentação das grandes empresas do setor que alegavam que a paragem de leilões colocava empregos em risco e poderia fazer subir os preços da energia. Segundo a sentença, o governo não tomara todas as medidas necessários para poder travar novas concessões.

Assim, o Departamento do Interior diz que este leilão se limita a “cumprir” aquela decisão. Esta ideia é contestada pelos especialistas ouvidos pelo Guardian que dizem que esta decisão não impediria, por si só, a administração de parar o leilão, de o atrasar ou de reduzir as dimensões das concessões. Por exemplo, Max Sarinsky, da New York University School of Law, é perentório a afirmar que a sentença “não força a administração a avançar com nenhuma concessão – o Departamento do Interior continua a ter capacidade de decisão sobre isso. Se adiassem, tenho a certeza de que seriam processados pelos interesses do petróleo e do gás, mas isso é outra questão.”

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