Há quinze dias que o auto-designado “Estado Islâmico” tomou o porto de Mocímboa da Praia, no norte de Moçambique. O grupo resiste na vila e o exército moçambicano informa que já foi obrigado a recuar por várias vezes.
Fontes das Forças Armadas de Moçambique no terreno confirmaram a situação à Lusa esta quinta-feira: “eles continuam em Mocímboa da Praia desde o assalto ao porto. Muitas forças nossas tiveram de recuar. Por exemplo, a minha unidade, uma das que estavam em Mocímboa, recuou até Mueda”, que fica a cerca de cem quilómetros do local. A mesma fonte confirmou a existência de “muitas baixas” e classificou a situação como “muito séria e complicada”.
A zona ocupada fica nas proximidades do projeto de exploração de gás natural liderado pela empresa francesa Total e avaliado em 17 mil milhões de euros. Por isso, na passada segunda-feira, a petrolífera e o governo moçambicano assinaram um “memorando de entendimento para uma força conjunta” que pretende assegurar a segurança desta exploração e que inclui “apoio logístico” por parte da petrolífera a esta força.
Citado num comunicado da empresa, o ministro dos Recursos Minerais e Energia moçambicano, Max Tonela, diz que tem “orgulho” no acordo “que reforça medidas de segurança e esforços para a criação de um ambiente operacional seguro para parceiros como a Total, que permita o seu investimento contínuo na indústria moçambicana, para pequenas e médias empresas e para as nossas comunidades”.
Há quem seja mais crítico. A Organização não governamental Centro para Democracia e Desenvolvimento considera o que se passa uma “privatização da soberania”. Para esta ONG, destacar militares para proteger “interesses privados em troca de pagamentos”, numa “lógica comercial” é violar a política de segurança do país.
A possibilidade de melhores salários para quem proteja as instalações de extração de gás levanta ainda outros problemas e “pode desmoralizar os efetivos destacados para proteger a população civil e outros interesses nacionais sem direito aos subsídios”.
Em toda a região de Cabo Delgado o conflito causou já, em três anos, mais de mil mortes e 250 mil deslocados a viver em condições “deploráveis”, como afirmou em entrevista à RFI Luís Bitone, presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos de Moçambique.