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Crise climática ameaça a saúde pública global

A aquecimento global, além de multiplicar eventos climáticos extremos como ondas de calor e cheias, ameaça também a prazo a saúde das populações, ao aumentar por exemplo a exposição a doenças transmitidas por mosquitos ou a prevalência de doenças psiquiátricas, segundo as academias de ciências europeias.
O relatório "O imperativo da ação sobre o clima para proteger a saúde humana na Europa", foi publicado esta segunda-feira pela European Academies' Science Advisory Council (Easac), organização que reúne as academias de ciências nacionais da UE, Noruega e Suíça. Disponível online, o estudo reúne e sistematiza os dados conhecidos sobre o impacto das alterações climáticas na saúde pública, que analisa em múltiplas dimensões como os efeitos do calor (que aumenta por exemplo as doenças cardiovasculares e respiratórias, as perturbações no sono e renais, e diminui a produtividade no trabalho), da poluição atmosférica, o aumento da prevalência de doenças infecciosas, de alergias, de problemas de saúde mental. Analisa também outros fatores de efeito mais indireto, como a baixa da produtividade agrícola, os fogos florestais, cheias, as migrações forçadas e conflitos armados.
A Easac avisa que as alterações climáticas ameaçam os enormes ganhos de saúde pública conquistados nas últimas décadas. O aumento das temperaturas trará para a Europa mais mosquitos que transmitem doenças como a febre do dengue, antevendo um aumento das doenças infecciosas no continente. A segurança alimentar e nutritiva também sofrerá com a baixa da produtividade agrícola se as alterações climáticas continuarem, havendo estudos que anteveem uma descida entre 5% e 25% das colheitas agrícolas na região do mediterrâneo. A contaminação da comida é outro problema que tenderá a piorar, pois bactérias já existentes como a salmonela ou a E. Coli proliferam e opõem maior resistência a antibióticos sob temperaturas mais quentes.
Apesar da severidade destes e de outros problemas identificados, o relatório contrapõe numa nota otimista que muito se pode fazer com o conhecimento atual e as soluções já disponíveis — mas isso exige uma vontade política férrea que ainda não se impôs. Reduzir as emissões de gases com efeito de estufa de forma a evitar um aumento de temperaturas superior a 2 graus Celsius reduzirá muito os efeitos mais graves sobre a saúde. A Easac aponta também para os efeitos positivos de uma descarbonização da economia: se se conseguir cortar nas emissões de carbono, afirma, isso permitirá reduzir a quase zero as 350 mil mortes prematuras registadas todos os anos na Europa devido a poluição atmosférica.
Com este relatório, a Easac reforça uma mensagem que a Organização Mundial de Saúde já tinha dado em Dezembro passado. Num relatório que também analisou os danos das alterações climáticas na saúde pública, nesse caso a nível global, a OMS afirmou que conter as alterações permitiria salvar um milhão de vidas por ano, número que considerou um imperativo moral para agir.
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