A coligação ambientalista Kick Big Polluters Out, que junta mais de 450 organizações que exigem a expulsão dos grandes poluidores das conversações sobre o clima, descobriu que há pelo menos 2.456 lobistas ligados aos combustíveis fósseis a participar na 28ª Cimeira do Clima da ONU que decorre atualmente no Dubai. Trata-se de um número “sem precedentes” que quase multiplica por quatro o número destes “influenciadores” relativamente aos que participaram na anterior reunião.
A polémica já tinha atingido a pessoa escolhida para presidir a esta cimeira, o sultão Ahmad al-Jaber, que também dirige a empresa petrolífera dos Emirados Árabes Unidos, ainda antes dele ter proferido declarações negacionistas sobre as alterações climáticas das quais teve mais tarde de se retratar.
A rede ambientalista nota que este número de lobistas, descoberto através de uma análise da lista provisória de participantes, torna-os, na prática, a terceira maior delegação presente, apenas superada pelo Brasil, que levou 3.081 e pelo país anfitrião que inscreveu 4.409. Por exemplo, as dez nações mais vulneráveis às alterações climáticas têm na cimeira uma presença muito menor, totalizando 1.509. Outro número é também ilustrativo: há sete vezes mais lobistas dos combustíveis fósseis na COP do Dubai do que representantes indígenas (que são apenas 316).
De acordo com a análise, 90% dos lobistas vem dos países do norte e a International Emissions Trading Association foi quem mais pessoas levou, incluindo representantes da Shell, TotalEnergies e da norueguesa Equinor. Para além de estarem presentes através de organizações, os lobistas também fazem parte das delegações nacionais. Assim, há representadas da TotalEnergies e da EDF na delegação francesa, da ENI na italiana, bem como funcionários da BP, ENI e ExxonMobil na delegação da União Europeia.
Os autores da análise, alertam para o facto da estimativa apresentada ser “provavelmente conservadora” já que apenas se têm em conta os delegados “que revelam abertamente as suas ligações aos interesses dos combustíveis fósseis e não aqueles que têm acesso às conversações usando uma filiação profissional diferente”. Acrescentam ainda que não é só o lóbi dos combustíveis fósseis que está presenta na Cimeira. Há “outras indústrias poluentes profundamente implicadas nas crise climática como as financeiras, o agro-negócio e os transportes” que marcam igualmente presença.
Brice Böhmer, da Transparência Internacional, parte desta coligação ambientalista, liga a falta de progressos no combate à crise climática à influência crescente dos “Grandes Poluidores”. E Eric Njuguna, do Fridays for Future, vê nestes números “apenas mais uma ilustração da campanha de décadas dos Grandes Poluidores para negar e atrasar a ação global climática”.