COP 28: número de lobistas a influenciar discussões do clima quadruplicou

06 de dezembro 2023 - 15:38

A coligação de 450 organizações ambientalistas Kick Big Polluters Out descobriu que pelo menos 2.456 lobistas ligados aos combustíveis fósseis participam na cimeira. Sem contar com os de outras indústrias poluentes. Se formassem uma delegação própria, seriam a terceira maior presente.

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Manifestante contra os combustíveis fósseis na COP 28. Foto de MARTIN DIVISEK/EPA/Lusa.
Manifestante contra os combustíveis fósseis na COP 28. Foto de MARTIN DIVISEK/EPA/Lusa.

A coligação ambientalista Kick Big Polluters Out, que junta mais de 450 organizações que exigem a expulsão dos grandes poluidores das conversações sobre o clima, descobriu que há pelo menos 2.456 lobistas ligados aos combustíveis fósseis a participar na 28ª Cimeira do Clima da ONU que decorre atualmente no Dubai. Trata-se de um número “sem precedentes” que quase multiplica por quatro o número destes “influenciadores” relativamente aos que participaram na anterior reunião.

A polémica já tinha atingido a pessoa escolhida para presidir a esta cimeira, o sultão Ahmad al-Jaber, que também dirige a empresa petrolífera dos Emirados Árabes Unidos, ainda antes dele ter proferido declarações negacionistas sobre as alterações climáticas das quais teve mais tarde de se retratar.

A rede ambientalista nota que este número de lobistas, descoberto através de uma análise da lista provisória de participantes, torna-os, na prática, a terceira maior delegação presente, apenas superada pelo Brasil, que levou 3.081 e pelo país anfitrião que inscreveu 4.409. Por exemplo, as dez nações mais vulneráveis às alterações climáticas têm na cimeira uma presença muito menor, totalizando 1.509. Outro número é também ilustrativo: há sete vezes mais lobistas dos combustíveis fósseis na COP do Dubai do que representantes indígenas (que são apenas 316).

De acordo com a análise, 90% dos lobistas vem dos países do norte e a International Emissions Trading Association foi quem mais pessoas levou, incluindo representantes da Shell, TotalEnergies e da norueguesa Equinor. Para além de estarem presentes através de organizações, os lobistas também fazem parte das delegações nacionais. Assim, há representadas da TotalEnergies e da EDF na delegação francesa, da ENI na italiana, bem como funcionários da BP, ENI e ExxonMobil na delegação da União Europeia.

Os autores da análise, alertam para o facto da estimativa apresentada ser “provavelmente conservadora” já que apenas se têm em conta os delegados “que revelam abertamente as suas ligações aos interesses dos combustíveis fósseis e não aqueles que têm acesso às conversações usando uma filiação profissional diferente”. Acrescentam ainda que não é só o lóbi dos combustíveis fósseis que está presenta na Cimeira. Há “outras indústrias poluentes profundamente implicadas nas crise climática como as financeiras, o agro-negócio e os transportes” que marcam igualmente presença.

Brice Böhmer, da Transparência Internacional, parte desta coligação ambientalista, liga a falta de progressos no combate à crise climática à influência crescente dos “Grandes Poluidores”. E Eric Njuguna, do Fridays for Future, vê nestes números “apenas mais uma ilustração da campanha de décadas dos Grandes Poluidores para negar e atrasar a ação global climática”.