A Conferência Internacional sobre o processo político na Venezuela, patrocinada pelo governo de Gustavo Petro, foi realizada em Bogotá. No seu discurso de abertura, o presidente colombiano falou sobre os fracassos e avanços na construção da democracia nas Américas e sublinhou que a região não pode ser um espaço de sanções, em referência aos bloqueios impostos pelos Estados Unidos à Venezuela, Cuba e Nicarágua.
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No Palácio de San Carlos, sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros colombiano, recomendou a reintegração da Venezuela no Sistema Interamericano de Direitos Humanos e pediu que fosse estabelecido um calendário para o levantamento das sanções económicas contra Caracas.
Juntamente com o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Álvaro Leyva, Petro disse que era necessário "andar em dois carris ao mesmo tempo". "Estabelecer o calendário para as eleições e as suas garantias, e que o povo venezuelano possa decidir livre e soberanamente o que quer. E, por outro lado, "o levantamento das sanções".
A conferência contou com a participação de representantes latino-americanos da Argentina, Barbados, Bolívia, Brasil, Chile, Honduras, México e São Vicente e Granadinas. Participaram também representantes dos EUA, Alemanha, Espanha, França, Itália, Noruega, Portugal e Reino Unido e o Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança da União Europeia, bem como delegados governamentais da Turquia e da África do Sul.
Na véspera da conferência internacional, o governo de Nicolás Maduro disse que se congratulava com a iniciativa, mas deixou claro que não retomaria o diálogo com a oposição sem progressos claros em cinco pontos: O levantamento incondicional de todas as medidas coercivas unilaterais, as chamadas sanções, impostas desde 2015 e a devolução de todos os fundos do Estado venezuelano que permanecem ilegalmente detidos nos Estados Unidos e nalguns países europeus.
Apela também ao fim das "políticas de lawfare nos tribunais dos EUA ou no Tribunal Penal Internacional contra o Presidente Maduro e outros líderes governamentais". A lista inclui também a libertação imediata do empresário e diplomata Alex Saab e a exigência de que a Plataforma Unitária cumpra o Acordo Social assinado no México em novembro de 2022, para a libertação de 3 mil milhões de dólares de dólares de recursos venezuelanos a serem aplicados em políticas sociais.
"Se algum de vós quiser ou aspirar a que as negociações políticas entre este sector minoritário da oposição, chamado Plataforma Unitária, e o governo bolivariano e chavista da Venezuela, regressem ao México, só têm de fazer uma coisa: no comunicado oficial que aprovarem, coloquem a exigência de que o governo dos EUA deposite os 3,2 mil milhões de dólares arrestados nas contas bancárias que temos no estrangeiro para o plano social assinado no acordo parcial no México, em novembro de 2022", disse Maduro.
"Assim que os depositarem, iremos novamente ao México", acrescentou o líder venezuelano.
Antes da reunião, o autoproclamado ex-presidente da oposição Juan Guaidó fugiu da Venezuela, violando a proibição de sair do país, e apareceu em Bogotá, de onde teve de sair em poucas horas, para Miami, nos Estados Unidos, vigiado pelo serviço de imigração colombiano e por agentes norte-americanos. As imagens de Guaidó a chegar sozinho às primeiras horas da manhã a Miami e a ser recebido por apenas dois ou três jornalistas puseram fim à sua invulgar presidência interina.
Além da questão eleitoral, o presidente colombiano disse que a Colômbia tem uma proposta para aliviar as tensões na Venezuela, que é o retorno do país ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos, incluindo uma reforma da Convenção Americana de Direitos Humanos.
Esta acção, esclareceu Petro, não significa o regresso à Organização dos Estados Americanos (OEA), organismo do qual o governo venezuelano saiu devido à ingerência da organização contra o país.
Por outro lado, a Conferência também trabalhará para conseguir a "desativação progressiva e gradual das sanções" contra Caracas, para que os venezuelanos possam decidir "livremente, sem sanções, sem pressões, o seu próprio destino social e político", disse Petro.
No final do dia, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Leyva, leu um breve comunicado no qual passou em revista os pontos que o Presidente Petro tinha levantado no início do dia: um calendário eleitoral e "eleições transparentes com todas as garantias" (referiu as recomendações da União Europeia nas últimas eleições regionais), o levantamento das sanções contra a Venezuela e a continuação das conversações no México.
Foi também anunciada uma visita dos participantes na conferência ao Presidente Maduro em Caracas, bem como um segundo encontro, ainda sem data marcada.
Pablo Rodríguez é jornalista venezuelano, analista de assuntos sul-americanos, associado ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE). Artigo publicado no site do CLAE. Traduzido por Luís Branco para o Esquerda.net.