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“Chile despertou”: com mais de um milhão nas ruas o poder político treme

Sob o lema, “o Chile despertou”, a manifestação de sexta-feira em Santiago do Chile juntou mais de um milhão de pessoas. O presidente Piñera pediu a demissão dos membros do seu governo e anunciou que o recolher obrigatório ia começar a ser levantado.
Manifestação com mais de um milhão de pessoas nas ruas de Santiago. Chile, outubro de 2019.
Manifestação com mais de um milhão de pessoas nas ruas de Santiago. Chile, outubro de 2019.

Ao fim da tarde de sexta-feira, mais de um milhão de chilenos tomou as ruas da capital do país para que dizer que “o Chile despertou. Não estamos em guerra”. A marcha massiva foi a maior mobilização desde o início de uma contestação que começou por ser contra aumento do preço do bilhete de metro e passou a ser contra a desigualdade social. Foi também uma das maiores da história do país.

O bilionário presidente Sebastián Piñera depois da primeira abordagem discursiva agressiva aos protestos tem vindo a retroceder na retórica. Primeiro resolveu acusar potências estrangeiras de estarem a manobrar os manifestantes e falou numa “guerra” contra os vândalos. A seguir, o presidente passou a dizer que compreendia o sentido dos protestos e a prometer deixar de lado o seu programa ultra-liberal, anunciando um novo “pacto social” com medidas como o fim do aumento da eletricidade, aumento do salário mínimo e das pensões mais baixas e um seguro de saúde estatal em caso de catástrofes.

Face à dimensão destas manifestações, escreveu no próprio dia no twitter: “Todos ouvimos a mensagem. Todos mudámos”. Considerou ainda que a manifestação abriu “caminhos esperançosos para o futuro”. Os manifestantes terão outro tipo de esperanças, uma vez que, para além dos gritos de “o povo unido, jamais será vencido”, outra das palavras de ordem mais ouvidas iam no sentido da sua demissão.

Para além de apresentar como se estivesse agora do lado dos manifestantes, Piñera deu este sábado também mostras de querer retroceder no uso da força contra manifestantes. O presidente chileno tentou usar primeiro mão dura, enviando o exército para as ruas para controlar os protestos — pela primeira vez desde a queda da ditadura de Pinochet — e o recolher obrigatório foi imposto em várias regiões do país.

Um pouco por todo o lado houve denúncias de abuso dos direitos humanos e o resultado é, até agora, pelo menos 19 mortos e mais de sete mil presos.

Este sábado anunciou que vai levantar gradualmente o recolher obrigatório “se as circunstâncias o permitirem” a partir das 24 horas de domingo. Mas os militares anteciparam-se e declararam que, em Santiago, Valparaíso, La Serena e Concepción não haverá toque de recolher já este sábado.

Isto apesar dos protestos de sexta-feira em Valparaíso não terem sido tão pacíficos como na grande marcha de Santiago. Os manifestantes conseguiram entrar no edíficio do Congresso que teve de ser evacuado.

Neste dia, Piñera fez uma nova jogada para aparentar proximidade ao povo: anunciou que convidou os ministros a demitir-se e ia fazer uma remodelação governamental de forma a “confrontar estas novas exigências”. Apesar do caráter vago deste anúncio, a Reuteurs disse ter tido acesso a um documento em que era sugerido que pelo menos nove ministérios seriam visados pelas mudanças, incluindo o interior, defesa, economia, transportes e ambiente.

Entretanto, novas convocatórias surgem nas redes sociais para que os protestos continuem sob o lema “ainda não conseguimos nada”.

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