A manifestação ligou Alcântara a Belém, onde o secretário-geral da CGTP discursou, apelando à mobilização contra o programa da troika que espalha a pobreza e o desemprego por todo o país. "Podem fazer todas as comparações e ilusionismos, mas o problema do país não está nos salários ou nas pensões, que estão a anos-luz da União Europeia. O problema do país está na política de direita, no memorando da troika e neste Governo. É este Governo que está a mais!", exclamou Arménio Carlos, repetindo a exigência da demissão de Passos Coelho.
A reivindicação do veto ao Orçamento de Estado para 2013 foi o ponto forte do discurso, com Arménio Carlos a lembrar que nos últimos dias "mais vozes se juntaram à ideia de que este Orçamento não pode ser implementado". Para a CGTP, "este é um orçamento fora da lei: porque insiste no roubo dos subsídios já declarados ilegais pelo TC; porque diaboliza os rendimentos do trabalho e dos pensionistas e protege os dos grandes grupos económicos e financeiros; e porque em cima do IRS tenta impor uma sobretaxa sobre os rendimentos do trabalho e isenta os rendimentos patrimoniais", afirmou o líder sindical, virando-se depois para o inquilino do Palácio de Belém.
"Aproveitando esta oportunidade de estarmos em frente do Palácio de Belém, queremos transmitir de viva voz ao senhor Presidente da República para que ouça o povo e exerça os poderes que a Constituição da República Portuguesa lhe confere. Ouça o povo e não cometa o erro de promulgar o Orçamento para depois solicitar a fiscalização sucessiva", exigiu Arménio Carlos.
No seu discurso, o secretário-geral da CGTP lembrou as propostas apresentadas pela central sindical como alternativa a este Orçamento, bem como a petição em curso para recolher o maior número de assinaturas de sempre contra os cortes nas funções sociais do Estado. O líder da CGTP referiu-se ainda às declarações do ministro da Economia Álvaro Santos Pereira "para irmos de mão estendida à troika pedir por favor que deixem aumentar o salário mínimo nacional". "Mas aqui não se estende a mão a ninguém para pedir esmola. Aqui exige-se aquilo a que nós temos direito: o aumento de um euro por dia no salário mínimo nacional, porque todos sem exceção em Portugal podem corresponder a esta proposta da CGTP", declarou Arménio Carlos.
Catarina Martins: "Não podemos ter orçamentos do Estado inconstitucionais a entrarem em vigor em dois anos consecutivos"
A coordenadora bloquista participou na manifestação da CGTP e comentou o tema do dia, com a notícia do semanário Expresso a garantir que Cavaco Silva irá promulgar o Orçamento, enviando-o para fiscalização sucessiva do Tribunal Constitucional. "Se o Presidente da República tem dúvidas sobre a constitucionalidade, deve pedir a fiscalização preventiva do Orçamento do Estado. É o único que tem esse instrumento", afirmou Catarina Martins.
Conhecida a disponibilidade da bancada parlamentar bloquista em voltar a pedir a fiscalização do diploma, como fez no ano passado, Catarina Martins confirmou que "há convergência nos partidos da oposição para se recorrer à fiscalização sucessiva do Orçamento" e respondeu ao suposto impacto negativo de adiar a entrada em vigor do OE'2013 para além de janeiro, um argumento sustentado pelos apoiantes do memorando da troika. "Que impacto não tem um país que tem dois anos consecutivos orçamentos inconstitucionais? Que impacto não tem nas pessoas uma crise terrível e um país que só tem para oferecer desemprego à sua juventude? Isso sim é preocupante", contrapôs Catarina Martins.